Elefantes Brancos- A Herança da Copa

Elefantes Brancos- A Herança da Copa
Jorge Linhaça

A expressão “Elefante Branco” tem o sentido de presente incômodo ou algo inútil, mas dispendioso. Segundo consta, no antigo reino de Sião, atual Tailândia, o rei costumava presentear cortesãos chatos e inconvenientes com elefantes brancos. Por ser presente real, o paquiderme não podia ser recusado nem vendido e, como era considerado sagrado, não podia ser utilizado em qualquer tipo de trabalho. Muito menos ser sacrificado. Além disso, deveria ser bem tratado e enfeitado, já que o soberano tinha o desagradável hábito de surpreender o presenteado com visitas “incertas” para verificar como ia a saúde do presente oferecido. Assim, o elefante, que tem vida longa, dava muita despesa e nenhum retorno, ou seja, não possuía qualquer utilidade para quem o recebia. Era mesmo autêntico “elefante branco”.
Em terras tupiniquins, a Copa do Mundo, encarada por muitos como um “presente dos deuses” deixará como herança vários elefantes brancos por todo o país. Para início de conversa, cada estádio custará em média 500 milhões de reais, sendo que 400 milhões entram como financiamento público, via BNDS, com condições de pagamento a perder de vista. Claro que esse dinheiro vem dos impostos de todos os brasileiros e poderia ser melhor destinado à construção de casas populares, hospitais decentes, escolas, de qualidade e etc.
Alguns estádios construídos ou reformados para a Copa (São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba ) provavelmente, após algumas décadas receberão o retorno do investimento.
A Fonte Nova em Salvador, também pode seguir o mesmo caminho, já que se trata de reerguer um palco acostumado a receber grandes jogos.
Em Recife, os principais times tem seus próprios estádios e o da Copa deve ficar às moscas.
Fortaleza deve seguir o mesmo destino.
Brasília, Manaus, Cuiabá e Brasília são as maiores piadas nesse quesito.
Com o devido respeito, nenhum desses estados possui um campeonato de futebol que consiga atrair torcedores em número suficiente para ao menos amortizar os custos dos estádios após a Copa.
Tais escolhas foram absolutamente políticas e nada coerentes.
O que vai acontecer com esses estádios depois da Copa? Ficarão como monumentos à incompetência dos políticos? Claro que sim, mas isso é o de menos, nós é que pagamos por eles.
A FIFA manda e os governos se ajoelham...
O destino desses estádios deve ser o mesmo do Zerão, construído no Amapá.
O Estádio Milton Corrêa, também conhecido como Zerão é um estádio esportivo localizado em Macapá, estado do Amapá.
O apelido do estádio se deve ao fato de que a linha de meio-de-campo coincide exatamente com a linha do Equador segundo um dos sistemas de coordenadas geodésicas em uso no Brasil (não no sistema WGS84[1]), fazendo com que cada time jogue em um hemisfério.
Hoje, está abandonado e não recebe jogos.
O que fazer com os elefantes brancos depois da Copa?
Ha quem defenda que se transformarão em arenas de Shows.
Resta saber se a arrecadação servirá ao menos para que seja feita a manutenção nesses estádios ou se seu destino será o mesmo do Zerão e do “Engenhão”, no Rio de janeiro, com eternos problemas.
E olha que logo vem os Jogos Olímpicos...haja dinheiro escorrendo pelo ralo, ou alguém duvida que o Rio de Janeiro vai entrar em reformas?
E tudo isso pra que? Enriquecer empreiteiras, políticos e apadrinhados políticos que deverão receber todas as concessões possíveis e imagináveis dos serviços prestados nesses eventos.
Claro que muitos voluntários vão se submeter ao vexatório trabalho escravo em troca de comida nesses eventos, apenas para dizer que participaram ativamente.
Está estabelecida a fórmula do sucesso.
Superfaturamento
Apadrinhamento
Trabalho escravo.
Assim ganham sempre os mesmos. E o povo? Bem, o povo vai estar hipnotizado, sentindo-se glorificado por sermos sede de eventos internacionais, no entanto, vai ser sempre aquele coadjuvante que não ganha nada com isso.
Ou será que o povo, como um todo, tem como bancar os ingressos caríssimos desses eventos?
Pra FIFA está ótimo, fatura sem nenhum gasto e ainda bota banca ameaçando cancelar a Copa se não for atendida.
Melhor que isso só um novo Maracanaço.
Salvador, 28 de maio de 2012.