Me ensina a andar de bicicleta de novo?

Só agora sei o valor inestimável da infância. Quando era pequena não me dava ao luxo de pensar na vida, apenas vivia. Era tão mais simples... As minhas maiores preocupações se resumiam em saber se minha mãe ia deixar eu brincar na rua no outro dia ou se eu ia brincar de garrafão, elástico ou pique-esconde.Que tempo bom... Não que hoje não seja bom. Mas é tudo tão diferente.

É que quando o nosso corpo cresce, os nossos pensamentos crescem junto com ele. Eu sinceramente acho que eles sentem uma certa inveja das nossas mãos que não são mais tão pequenas e dos nossos pés que não cabem mais nos antigos sapatinhos. Os pensamentos ganham vida, não que antes eles fossem mortos. É que a gente para pra pensar no outro, percebe que a vida não se resume ao nosso próprio mundo. A nossa bolha estoura, como se fosse apenas de sabão.

Descobrimos que quando crescemos temos certas obrigações a cumprir. Isso se chama amadurecer. E como é difícil saber que agora é você que detém o controle de tudo. Não é mais sua mãe que escolhe suas roupas ou penteia seu cabelo. Não é nem mais ela que faz a sua comida... Agora, o que acontecer com você é responsabilidade inteiramente sua.

“O que você vai ser quando crescer?” - Eu não quero crescer. Eu quero ser criança. Eu quero de novo o colo da minha mãe. Eu quero esquecer do quão injusto o mundo é. E do quão injusta eu sou com o mundo.Se alguém me perguntar se eu sou feliz, eu tenho a resposta na ponta da língua. SIM. E porque NÃO? Mas sabe quando você sabe que falta alguma coisa? Eu preferia não saber, e quando eu era criança eu simplesmente não sabia, e se sabia, ignorava de uma forma excepcional.

Eu nem pedi pra crescer. Também não pedi pra amadurecer. "Não sei. Só sei que foi assim"

Meu pai me ensinou a andar de bicicleta. Eu caí e levantei. Caí e levantei. Caí, levantei e me equilibrei. O saldo dessa brincadeira: alguns arranhões pelo corpo e um choro de no máximo 2 minutos. Ninguém vai me ensinar a ser gente grande. Eu vou cair e levantar. Cair e levantar. Cair, levantar e me equilibrar. O saldo dessa brincadeira: infelizmente eu não posso estimar. Vou ter que esperar pra ver, mas só a espera já me angustia. Angústia maldita. Bandida. Safada. Me larga. Mentira, fica aqui comigo, porque é você que vai me ajudar a mudar. É você que vai me ajudar a crescer. É você que vai me ensinar como andar nessa nova bicicleta.

Eu queria mesmo era uma bolha de ferro, mas sabiamente mamãe não me deu. Só as bolhas de sabão tem a leveza suficiente pra voar. Voar tão alto. Voar tão longe. Ser tão livres, ainda que frágeis...