Ainda lembro

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Não sou modelo "boa memória", mas tenho orgulho de lembrar de muitas coisas bem lá do passado.

Eu sempre me orgulhei da minha ilustre capacidade de lembrar nomes, fatos, datas, trivialidades, coisas importantes e futilidades também. Nada comparada a minha amiga Lucy Freitas, que é praticamente uma Wikipédia ambulante, mas sempre fui boa nessas coisas de "lembrar". Histórias do tempo de escola, brincadeiras da infância, do bairro, dos amigos, família, planos: eu não esquecia nada. Flertes, ex-flertes, flertes não concretizados: nada escapava da fabulosa memória de Cristiane. Até pouco tempo...

Eu tenho esquecido as coisas. Fatos, eventos, pessoas, livros. Músicas. Histórias. Partes da (minha) vida. Parece que uma parte do meu "hd" lotou. Tá cheio. E, automaticamente, começou a fazer uma limpeza pra garantir espaço pra memórias novas. Tá, eu sei, eu não sou tão velha assim. E não vivi nada se comparar minha vida com a de outras pessoas, eu sei. Nao entremos nesse mérito. Não é esse o tom. O fato é que eu tenho esquecido. Coisas importantes, pessoas, partes de mim. E isso é triste.

Triste mesmo é ver pessoas que a gente ama partir - seja pra outro lugar, seja pra sempre, seja pra fora de nossas vidas - mas, mais triste ainda é não lembrar do que foi dito, do que foi feito. Não conseguir. Ter vivido e poder buscar na caixinha aqueles bons momentos pra dar umas boas gargalhadas (ou derramar algumas lágrimas pra lavar a alma) posteriormente. Esquecer. Não tem coisa pior.

Num momento desses, resta o consolo de saber que o que é essencial nunca vai ser esquecido (a não ser que o Alzheimer me "pegue" algum dia). Que eu nunca vou esquecer como foi e com quem foi meu primeiro beijo. As tardes na casa da vovó Silvia. O bolo duas cores da minha mãe. O primeiro "disco" da Xuxa. O primeiro amor. A primeira decepção. O primeiro emprego. As grandes amigas dos tempos de colégio (por mais que vivam em mundos completamente diferentes do meu agora). A saudosa Escola de Música Santa Cecília em Petrópolis, A primeita aula de Bellydance, Santa Cruz da Serra que tanto amo. As viagens com a banda. A primeira aula de Inglês que eu tanto fiquei nervosa. Aquele friozinho na barriga ao pisar naquele local, naquele dia, com quem eu tanto queria. Meus filmes preferidos, séries e tudo que faz minhas células permanecerem sadias.

E, o que é mais importante fica. Pra sempre. E bom mesmo é saber que tem muito mais por vir. Lembrando depois ou não.

Cris Souza Pereira
Enviado por Cris Souza Pereira em 27/05/2012
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