Final Feliz
Quando chego em casa, completamente esgotada de um dia exaustivo, a primeira coisa que faço é tomar um bom e relaxante banho, depois me sento em frente a televisão para assistir o capítulo inédito de uma novela qualquer.
- Carlos, você despedaçou meu coração, roubou de mim a alegria de viver! (lágrimas e mais lágrimas de crocodilo).
Troco rapidamente de canal...
- Estou cansada do Henrique, ele não me compreende, agora deu pra me agredir você acredita Mariana? O pior é que eu ainda o amo, e sei que essa fase terrível vai passar.
Juro pra mim mesma que agora será a última tentativa. Aperto mais uma vez o botão do controle remoto...
- Blá, blá, blá... Vou me casar Aninha, agora sim o meu relacionamento com o Sérgio vai se estabilizar. Graças a meu Santo Antônio! (lixo e mais lixo).
É engraçado como as novelas transmitem a falsa impressão de um relato fiel do que realmente é a vida, os acontecimentos mais raros e improváveis são dispostos em um mesmo plano, como se ocorressem frequentemente.
As mocinhas normalmente enfrentam mil e uma peripécias para chegarem, enfim, à felicidade eterna. O sofrimento varia de acordo com o tipo de novela, mas sem dúvida elas sofrem muito mais por amor. São sempre vítimas de traição, espancamento, agressões verbais, indiferença, enfim, de alguma forma o suposto amor de suas vidas sempre as fazem sofrer, despedaçando seus frágeis corações de cristal. Mas não mais que de repente, a mulher desperta do pesadelo e entra em um verdadeiro conto de fadas. O intrigante é que ela só consegue descobrir esse novo mundo de fantasias quando surge um outro homem em sua vida, provavelmente o seu novo e eterno amor.
Chega a ser paradoxal: a mulher entra em um pesadelo por causa de um homem e só pode sair desse universo sombrio com a ajuda de um outro homem. Tudo funciona como se ela não possuísse uma força interior que a impulsiona. A vida dessa pobre donzela gira em torno do amor ao sexo oposto.
As novelas, assim como os contos de fada, sempre incluem em seus happy endings, um casamento, um encontro mágico entre um príncipe e uma princesa. A vida deixa de ser relatada a partir do momento em que o tal amor pleno é atingido. Os problemas e as cobranças acabam, todo e qualquer sentimento ruim é automaticamente convertido na melhor e mais cara felicidade existente no mercado.
Felizmente, em nosso estranho mundo real, fora das fantasiosas histórias transmitidas pela televisão, temos uma vida. Sofremos, erramos, aprendemos, somos injustiçadas, crescemos, e por que não? Amamos. Mas amamos de uma forma livre, experimentando as diversas facetas do amor.
De repente desperto dos meus devaneios com alguns adoráveis beliscões.
- Faz um leite quente pra mim por favor?
- É pra já!
***
- Pronto amor, do jeitinho que você gosta!
- Brigada! Te amo mãe!
E ainda há quem acredite que só existe uma forma de amar...