Crônica #097: MESMO QUE TE ESQUEÇA, NÃO TE ESQUEÇAS DE MIM

Crônica #097: MESMO QUE TE ESQUEÇA, NÃO TE ESQUEÇAS DE MIM

Sábado, no banco do nosso jardim, tive a grata alegria em dobro de receber para nosso café matinal, o casal de amigos Amin Nésio e sua gentil esposa, Roos (Rúush), que carinhosamente a de Rúshia. Eles são os nossos amigos mais chegados e creio ser pelo motivo de sermos primos entre si. Rúshia, prima minha e Amin, de minha amada Susana.

- "Mas que prazer mais inusitado, Amin! Oi, Rúshia! Já estávamos com saudade! Susana! Venha ver que acaba de chegar!"

Susana chega e cumprimenta o primo e esposa, ao estilo carioca, duplo beijo facial e um caloroso abraço. Fui no mesmo embalo, cumprimentos no mesmo estilo, porém num carregado sotaque Sul Cearense.

Enquanto nós colocávamos o papo em dia as duas conversando na copa:

- "Susana, querida! Estou morta de preocupada!"

- "Dá pra notar, Rúshia. O que está acontecendo? Deixou-me também, menina! Conta logo!"

- "É o Amin! Ele anda meio esquisito. Imagina que semana passada fomos à fisioterapia. Ele me deixou e foi ao Centro resolver algumas pendências. Você nem imagina o que fez..."

- "Ai, Rush! Deixa de suspense e fala logo de uma vez. Ele se envolveu com umazinha por aí? Vou dar-lhe uns puxões de orelhas. Ele vai ver só!"

- "Calma! Calminha, Susie! Deus nos livre disso aí! Graças a Deus, não! Ele simplesmente me deixou plantada lá na Clínica até umas sete da noite. E quando liguei pro celular dele e foi logo dizendo: 

- "Oxente, Meu Bem! Onde foi que se meteu? Estou super aflito! Da próxima vez que for sair, me avisa pra que eu fique tranquilo ao chegar em casa e não te encontrar.' Veja se agüento, Susie!"

- "Que coisa, Ru! Nem quero acreditar! Já foram ao médico depois disso?"

- "Já! Nem te conto! Saímos de lá muito preocupados. O médico disse que o Amin está com sintomas característicos de esclerose múltipla. Ele está esquecendo de quase tudo. Esquece a senha do banco, está tentando criar nova assinatura, porque se esqueceu da que usava e o pior, vai pegar roupa na geladeira e comida no gaveteiro, coisa desse tipo. Vive trocando o nome dos filhos, quando não inventa um pra não ficar sem chamar. Perdoe-me, querida, mas estou muito insegura."

- "E ele? O que acha disso tudo?"

- "Está-se sentindo péssimo. Vez por outra, vejo-o disfarçando uma lágrima e se queixa; "Eita, que hoje 'tá' é ventando!' Concordo pra ele não se chatear. Você sabe, né!"

- "Eia pois Rúshia, conta comigo pra tudo. Viu?"

- "Sei disso, querida! Pode deixar que qualquer coisa te procuro. Temos que ir."

- "Vá agora não, Rúshia! Almoça conosco!"

- "Obrigada, Susana! Fica pra próxima. Preciso pegar as crianças que ficaram com os avós!

Enquanto isso, no jardim, eu ouvia o Amin falar muitas coisas com pouco nexo e, educadamente, demonstrava atenção pra não o chatear. 

Chegaram a Susana e a Rúshia que se despediu de nós e chamou Amin para voltarem pra casa.

- "Fiquem na Paz De Cristo, primos! MESMO QUE EU ME ESQUEÇA DE VOCÊS, POR FAVOR, NÃO SE ESQUEÇAM DE MIM!", falou o Amin. 

Disse isso, marejando lágrimas, com um olhar triste e vazio!"

Só então percebi que quem dirigia era a Rúshia e não o Amin.

- "Querida! Você não achou o Amin um pouco esquisito?"

- "Nem me fale, Od! Vem cá que te conto tudo."

Depois que Susana me pôs ao par de tudo sobre o primo tive a certeza que precisávamos orar e estar sempre por perto para os ajudar no que fosse preciso. Pensei comigo mesmo: "Coitado do primo! Pra completar, por ironia, o seu nome é AMIN NESIO."

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Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 27/05/2012
Reeditado em 02/06/2012
Código do texto: T3691450
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