“O Último tiro”.
Quando fechei a mira telescópica no sujeito e abri o foco.
Pela primeira vez na vida hesitei.
Era uma criança, rosto imberbe, de alguém que tem tudo para conquistar na vida.
Na minha mão estava seu destino.
Eu nunca tive dó, nem remorso.
Mesmo a distância ele virou e parece que me olhou diretamente.
Senti a dor de seus pais, que nunca mais poderiam contar com ele.
Que poderia ser no futuro:
Advogado, médico, enfim tudo que eu iria cercear no meu gatilho.
Esta hesitação custou-me a vida.
O delegado Teixeira e sua turma estava em minha retaguarda e tomei várias cargas de chumbo grosso nas costas.
Morri sem disparar, estava feliz por não ter tirado aquela vida.
O começo.
Eu era um moleque e gostava de caçar rolinhas.
Desde cedo minha aptidão para tirar vidas se manifestou.
Do estilingue passei para a espingarda pica pau, "de carregar pela boca", até que passei para a cartucheira.
Daí para partir para a primeira encomenda foi pouco tempo.
Fiquei conhecido dos coronéis e políticos.
Aliado a minha fama veio o dinheiro.
Ganhei muito e fiquei rico.
Só não constituí família, pois não podia ter ponto fraco e família seria o meu.
Minha família paterna ou o que restava dela, foi morta por vingança, que também cobrei caro, olho por olho.
Fiquei sozinho em uma enorme casa, cheia de empregados que trabalhavam mais por medo, que por amor ao patrão.
Sempre pensei em parar, mas sempre tinha um último serviço.
Realmente me propus a fazê-lo para um político conhecido, seria meu último trabalho.
Não conhecia meu alvo, só sabia onde ele estaria, apenas um tiro.
Depois férias para não mais voltar, tinha tudo planejado.
Só não contava que meus passos eram vigiados por um delegado que por muito tempo me seguia .
Várias vezes escapei por um triz, pois contava com ajuda da própria policia, que pagava regiamente.
Neste dia fechei minha carreira de matador de aluguel.
Mas tenho certeza que um substituto já esta por aí...
OripêMachado.