pseudo saciedade
Que logo eu, amante da vida que sou, estava deixando a vida ir. Estava permitindo a ela que passasse por mim como um vento e, a mim, não permitia sequer o cabelo solto ou o vestido rodado, nem mesmo os dentes estampados na cara, para gelar e tremer com o vento frio.
Via gente comendo vida e, numa convulsão espiritual, morrendo de alma, por não se permitir tempo para a digestão existencial. E eu com uma anorexia de mundo, entregue à uma digestão que parecia não ter fim. Me achando cheia o suficiente de tudo. Sem saber que nós nunca estamos cheios o bastante para nos permitir uma espera tão longa, para nos permitir o abandono do alimento por tanto tempo. E sem saber que, para certas coisas que ingerimos, nós é que determinamos seu tempo dentro do nosso estômago-coração. Que se começa a nos atrasar pra vida, aí estão os antiácidos. Que barriga cheia nem sempre é sinônimo de saciedade. E que o medo de provar da vida chega por caminhos obscuros e nos leva ao mais triste dos esquecimentos, o esquecimento de nós mesmos.