Mercado das letras
Vendi meu textos de porta em porta, como um vendedor de rede. Negociei preços. Anunciei no carro da pamonha e tudo mais. O resultado foi portas na cara. Venda a atacado. Três por dez. Gato por lebre? Não! Não é isso! O que acontece é que a cultura virou comércio. Minhas palavras: mercadoria. O sexo já é vendido faz tempo e agora fabricam o amor. A leitura é escassa. A música bate, não toca. E as roupas são vendidas à prestação.
Meus textos foram tecidos nas toalhas que me banho. Me leio. Me encanto comigo. Me seco com minhas palavras. Me envaideço com meus versos: Aos poucos. A prazo. Meu corpo lê a ele próprio. Zomba de si mesmo quando quer. Se emociona em arrepios. Me acalmo neles.
Me disperso do que já não é meu. Das cópias. Da censura. Do mercado negro e do gato preto que me assombra as horas.
Tirei da gaveta meu calendário de sextas-feira 13. Vendi meu leito, meus sonhos, meu passado. Parei no meio da Praça 7 com um cartaz nas mãos. Gritei, ninguém ouviu. Ninguém me viu. Tomo mundo sumiu, se foi, ou virou estrela. Não sei!