Herrera e os universos paralelos ou o paradoxo cubano
 
Meu amigo cubano, Herrera, adora ciência, ficção científica. Melhor dizendo, ele adora física quântica. Não, ele não é físico. Ele é professor de espanhol. Se ele entende de física quântica? Tanto quanto eu entendo de astronomia. Ele diz que física quântica é para sentir, não é para entender. É como se fosse magia, poesia, imaginação. Ele diz que mesmo os físicos não entendem muito bem. Nesta parte eu sempre discordo dele. Enfim, o que ele mais aprecia mesmo é viagem no tempo. Claro que é possível. Agora você acha que não é, mas no futuro.... Ele me explica com seu espanhol entremeado de palavras em inglês  e, às vezes, um pouco de português para me agradar, que é como o celular, como a viagem à lua. Se você falasse dessas coisas para alguém nos anos 1700 ou 1600, eles iriam achar tão absurdo quanto nós achamos a viagem no tempo nos dias de hoje. Você não consegue enxergar, não é óbvio para você? Concordo não pela lógica, embora vibrante, mas porque ele é muito eloquente. Um dia resolvi ler um pouco a respeito do assunto. Parece que até existem fórmulas matemáticas para explicar tudo. Existem aquelas propriedades das sub, sub,  partículas do átomo. Aqueles nomes estranhos...O negócio é muito complicado. Por mais que o artigo sobre o assunto seja para  “leigos” ou para “idiotas” no assunto, ainda está muito, muito, longe de qualquer coisa assimilável por seres humanos normais e até mesmo com pós-graduação em outros assuntos que não sejam  física quântica. Mas daí, no meio de minhas leituras achei algo que eu poderia usar para colocar o Herrera na parede. Queria ver como ele iria se sair dessa. Era o tal do “paradoxo” . Você se lembra? Aparece até no “De volta para o Futuro”... imagine você voltando e conhecendo seu tataravô. De repente você faz alguma coisa e muda o passado. Algo que você fala para ele e ele fica desnorteado, faz uma bobagem  qualquer para evitar outra bobagem que você avisou para ele que iria acontecer. Por algum motivo as coisas mudam, ele e a família vão para outra cidade distante para evitar uma tragédia que você, que veio do futuro, conhecia. Ele acredita e foge. No processo, a filha dele, que é sua avó, deixa de  conhecer o seu ex-futuro avô que é daquela cidade. Não se casam, não têm o filho que é seu pai...Entende? Você não existe mais. Se você não existe mais, como você viajou para o passado?
Fui preparado e no dia seguinte falei tudo para o Herrera. Criei um caso bem real, com minha família, dei nomes a eles e tudo. Herrera se interessou pelo caso muito mais do que eu pensava. Prestou muita atenção, tomou notas e tudo mais. No entanto, tinha um sorriso malicioso nos lábios. Aquele jeitinho de que já tinha a resposta para um ser quanticamente insignificante como eu. Terminei meu caso, minha explicação. Caso fechado, não pode, é impossível. É o paradoxo.
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Antes de entrar  na parte da Física, ele me ilustrou com inúmeros  casos de paradoxo, que eu nunca notara e que tinham acontecido recentemente, em nosso século. Pensei bem e achei que ele tinha razão. Paradoxo...e ele deu uma risadinha de deprezo. Depois deu a explicação científica. Ou melhor, a solução. Para dizer a verdade eu não sei se os físicos quânticos já tinham pensado nesta solução, mas absurdo dentro do absurdo, até que era uma solução bastante simples. Ele me pergunta se  nas minhas recentes leituras,  eu tinha lido algo a respeito de universos paralelos ou multiuniversos. Tinha lido sim mas não entendi muito como os físicos extrapolavam aquilo das subpartículas atômicas. “Can’t you see, my friend?” , ele me falou em inglês para ficar mais eloquente. A solução já foi dada, está na própria física quântica... Aquela outra história que você criou, porque você é desastrado, o paradoxo que você criou, passa para outro universo, o paralelo. Você, você, que viajou, volta para seu universo. Ficam duas histórias diferentes, dois vocês. Se você, em sua viagem, fizer mais besteiras, ou mais paradoxos, criam-se novos universos, paralelos. A convicção dele era tanta que estava a ponto de acreditar. No entanto, resolvi parar a conversa e ir para casa. Fiquei apavorado de ver meu “e u”andando, multiplicado, num paradoxo eterno, nestes infinitos universos paralelos... Eu, hein..Não estou conseguindo administrar nem esse meu mundinho aqui...quanto mais “multiuniversos”...Estou fora!

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