FOGO QUE ARDE GELADO E QUEIMA SILENCIOSAMENTE
Queima.
É um rubor, uma labareda que nasce no peito e vai se distribuindo e ardendo na pele, sobe no peito feito ácido quente, eleva do coração ao ambro e desce gelando o braço esquerdo em uma dormência congelante. Assim são minhas noites, as vezes ardo como uma tocha humana e sinto a carne desprendendo dos ossos. O calor é intenso, a cama se transforma em uma fornalha.
Viro e reviro para os lados, descubro-me e nada.
As vezes sinto afundando no travesseiro e minha respiração se torna ofegante, difícil; quase no final, quando me vejo no último suspiro, recobro o controle e como se estivesse no vale da morte, renaço, como se voltasse do inferno, infelizmente renasco.
Parece poético, parece lírico, mas é o que acontece na maioria das minhas noites.
Sento na cama procuro um copo d'agua e sorvo o liquido que parece apagar o fogo ardente de minha garganta; bebo, respiro e olho em volta. Tudo calmo, tudo escuro, ninguém percebe meus esforço para me manter respirando.
Sento!...
Olho novamente, passo a mão no peito, desço pelo braço esquerdo, cadê ele. Não acho, está torpe, dormente, inerte, mas está alí. passo a mão pelos cabelos.
Oro!... Não não oro, ainda não!
Não vejo neste instante minha fé, eu não tenho, não peço ajuda de "Deus". Continuo cético, continuo ateu, continuo realista, será que estou no umbral, a um passo entre a vida e morte?
Quando minha cabeça, meu corpo todo torpe pesa e afunda no colchão, não sinto medo, não sinto raiva, não sinto odio, não sinto amor...
Apenas sinto meu corpo de desfazendo em um nada, sem nada. Nada de "Luz-no-fim-do-túnel"; nada de paz; nada de euforia. Só o silêncio, eu me desfazendo, perdendo o fôlego, queimando em brasa viva e tudo vai definhando, será que estou nos umbrais da morte?
Mas passo tudo isto em silêncio, sem barulho, sem tentar chamar a atenção, acho que consigo, porque ninguém percebe, ninguém nota, e assim, se eu expirar num destes momentos, só vão notar se não acordar pela manha como de costume, neste momento já estarei longe e já paguei minha travessia ao barqueiro, não há nada a fazer.
Assim estão sendo a maioria das minhas noites.
Estou prôximo de meus ultimos dias?
Será?...