Posso também ser socióloga, Augusto.

Estava no trem hoje de manhã, no horário do rush, tentando equilibrar-me no meio de tantas pessoas e poucos espaços. O trem balançava para cá, para lá e saia do chão alguns centímetros. Tantas pessoas, eu disse.. Mas ao mesmo tempo, o trem estava vazio. Olhos roboticamente centrados para frente, compenetrados na imagem que se distorcia do lado de fora. Silêncio. O que estariam pensando?

Estava me segurando na barra de ferro, ao lado de um homem que por sorte tinha conseguido sentar. Ele era pardo, de roupas surradas e gesticulava com outro homem a cerca do verdadeiro sentido de ser um cidadão. "Não é só deveres, sabe? E os nossos direitos, onde eles estão?". O que teria vivido esse homem?

Logo em minha frente havia um idoso com o cabelo branco-levemente-amarelado preso em um rabo de cavalo e lia uma revista de energias renováveis em alemão. Ele estava sorridente e altamente concentrado. Por que esse homem havia vindo para o Brasil?

Sentada bem a frente, havia uma mulher com um fone de ouvido e todos (ou talvez só eu) a olhavam com repressão pois a música estava muito alta. Depois de alguns minutos, o homem que estava ao lado dela, abriu a mochila e tirou o som do celular. E então me arrependo de tê-la encarado. E agora, será que ela viu como a olhei?!

Uma mulher abriu a bolsa, discreta e silenciosamente, e depois foi quebrando em pequenos pedaços o chocolate antes de leva-lo à boca. Tomando cuidado de olhar para os lados para ter a garantia de que ninguém estava vendo. (Será que ela está em uma dieta? Shiiiiiu!). E enquanto isso, um homem curto e careca encarava a todos, melancolicamente, com um dos seus olhos que não estavam tampados por um tapa-olho. Seria briga de gangue?

Histórias. Todos a possuem. Seja ela qual for, te impede de ser considerado morto dentro de um trem.

J Monsôres
Enviado por J Monsôres em 24/05/2012
Código do texto: T3686035
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