José Trigueiro do Vale
Trigueiro, como o chamava o grande amigo Marcos Trindade, mesmo deitado nos últimos dias de vida, foi um homem que morreu em pé, altivo, ilustre e em companhia com a dignidade que sempre preservou ao seu lado. Humano, facilmente chorava ao sentir uma tristeza ou uma forte alegria; só interrompia seu costumeiro sorriso para se preocupar com a seriedade dos problemas, dos obstáculos nos embates e na luta da sua vocação de excepcional empreendedor. Insigne itabaianense, prudente sem ter medo; destemido, mas com bom senso, mostrou em tudo que sabia experiência e habilidade do seu saber fazer, e como nos ensinou durante essas realizações! Por ter sido parte nessas realizações, queixo-me, como toda comunidade, da sua partida.
Padre Trigueiro, além de pastorear com muito desvelo suas ovelhas, estendeu o mandado do “ide e ensinai” à educação de crianças e jovens no excelente Instituto Dom Adauto e, aos jovens e adultos na UNIPÊ, onde, desde os primeiros passos dessa ideia preconizada por Manuel Batista de Medeiros, construiu o bem equipado Campus de Água Fria, restando aos seus sucessores a finalística tarefa de conduzir aquela instituição a uma sempre crescente melhoria de ensino em rumo à qualidade de excelência.
Com este professor e amigo, percorri vários caminhos da vida e li nele o fragmento que Cícero colheu das tragédias de Ênio: “Amicus certus in re incerta cernitur” (O amigo certo se conhece na circunstância incerta). Também estive em companhia de Trigueiro, alternadamente com René Vandezande, Padre Marcos Trindade e professor Luizito Dias Rodrigues, em diversas estradas daqui e de outros lugares distantes como Roma, Milano, Como, Bruxelles, Rotterdam, Amsterdam, Aachen, Krefeld, Düsseldorf, München, Köln, Bonn, Paris, Stalingrado e Moscou, de quando guardo a imagem de um Zé Trigueiro jovial e solidário. Sua amizade me faz reviver o poema “In memoriam”, de Alfred Tennyson ao falecido amigo Arthur Hallam. O que somos caminhando nesse sonho? Talvez lembranças na claridade da vida e lágrimas na obscuridade, sem precisar da palavra, da linguagem, tampouco de idioma para traduzir nossa dor. Todos que conhecemos nosso José Trigueiro o perdemos, contudo, melhor ter amado e perdido o amigo do que nunca tê-lo amado. Não me refiro à amizade morta, mas viva, apenas a distância e cuja lembrança nos aporta, eu e seus amigos, à sua presença que nunca morrerá.
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