A VIA LÁCTEA

Quando estou com tempo livre, gosto muito de ouvir música. Minha discoteca doméstica é variada e guarda quase todos os gêneros musicais.

Dia desses fui acometido por uma dessas crises de saudosismo e o estilo da vez foi o chamado Rock Brasil dos anos oitentas.

Procura daqui, procura dali e finalmente retirei do porta-CDs um álbum da Legião Urbana. Entretanto, fato curioso, o disco não pertence à década de oitenta, mas sim aos anos noventas.

Na verdade “A Tempestade” foi o último álbum gravado pela banda antes da dissolução, esta ocorrida logo após a morte do líder e vocalista Renato Russo em outubro de 1996. De tempos em tempos a discografia da Legião Urbana é relançada.

Coloquei o CD para tocar e logo comecei a escutar “vamos falar de pesticidas e de tragédias radioativas...” Natália, um rock pesado com uma letra pessimista. Contudo, ao final há uma ponta de esperança.

Não sem razão, A Tempestade é considerado o disco mais deprimido da banda. Que maré brava!

Saí da faixa um e saltei para a cinco “hoje a tristeza não é passageira, hoje fiquei com febre a tarde inteira...”, canta Renato Russo com uma voz melancólica. A música se chama A Via Láctea.

A Via Láctea, por quê?

Engraçado, nunca tinha antes parado para pensar sobre o porquê desse título para uma canção tão introspectiva.

Mas agora me surge ao menos uma ideia: todas as mazelas humanas estão a colidirem nessa galáxia.

Bem, pode ser. Para não faltar com a sinceridade, não sei o que vai à cabeça de um artista angustiado na hora em que está compondo.

Não curto drogas nem me dissimulo na embriaguez. Também não absolvo nem condeno quem o faça.

Uma coisa é certa: cada um sabe a dor que traz no coração e sobrevive com ela até o momento em que não mais aguentando carregar sozinho o fardo, decide compartilhá-lo ou se matar.

Fico com a primeira opção, afinal todos estamos a interagir irremediavelmente nessa via-crúcis láctea.