A cura de uma endemoninhada em Sampa

Foi quando eu passei muito tempo sem vir até à casa de mamãe, estávamos sentados à mesa, bebendo café com leite, grandes pedaços de bolo de fubá fumegavam no prato novo de porcelana que reservara para nosso encontro. Com uma expressão resiliente no rosto, dizia que sentia muitas dores por todo o corpo, era como se tivesse levado uma surra, repetia levando à boca um punhado de remédios coloridos, engolindo os em um grande gole de café.

Mamãe me deixava à par de tudo o que havia de mais recente em sua vida: o seu atual marido enfim estava propenso à ir a igreja, depois de uma longa e paciente espera, em que suportara as carraspanas deste velho que se aproximara dela após a morte de papai, com os objetivos ainda hoje, escusos, mas há muito desistira de enxerga-lo como um intruso, e até que, passado o tempo, sinto por ele algo semelhante a um afeto.

Contava sobre as irmãs da igreja que se reuniam depois do culto para comer, beber e alcovitar sobre tudo e todos, formavam um coral de Botero em que as membras gordinhas, seguravam nas mãos um livrinho com os hinos evangélicos, pendendo de seus narizes os óculos de leitura. Falava atropeladamente, ouvia a calado, até mamãe me contar o caso de uma mocinha da igreja que andava possessa de um espírito imundo, segundo os termos que usara.

O caso era o seguinte: Yasmin tinha dezesseis anos, diziam sobre ela desde a sua primeira infância que um dia seria artista de novela, era excessivamente fogosa, macaqueava os trejeitos afetadamente femininos de suas atrizes preferidas, passando batom, calçando o salto alto das amigas e fazendo poses de manequim de passarela diante do espelho, suas pernas desde sempre foram bem desenhadas pela natureza, tinha o requebrar de mulher nova e viçosa. Nisso tudo era precocemente desenvolvida, mas, por um acaso do destino, mantinha-se virginalmente impenetrada por uma picha tesa. A jovem e pura beldade tinha um namorado, seu oposto, um rapazinho assexuado, frágil, que era considerado o melhor partido entre as jovens da igreja, pois viam nele um futuro pregador evangélico, que seria capaz de emocionar as plateias mundo afora. No entanto, ainda não era homem experiente para perceber o vulcão lascivo que lhe estava a mão, esperando carícias especiais para jorrar em erupção, tanto pior para o caso, era o fato do namorado prometer a ela, sempre que as coisas esquentavam, que só transariam após o casamento. E então Deus lhes daria filhos, muitos deles, de todos os sexos, e uma casa e uma obra religiosa relevante e seriam muito felizes até a volta de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Acontecia que quando estavam a sós dentro do carro, Yasmin agia naturalmente quando subitamente, como numa crise epilética ou demoníaca, soluçava convulsivamente, vibrando a língua carnuda pelos lábios pintados de vermelho cereja, o casto namorado então, invariavelmente desesperava-se, abrindo a porta do carro e correndo desabaladamente, gesticulando, pedindo ajuda de Deus, à noite, em suas orações pedia fervorosamente que Ele o livrasse de tais tormentos.

Mamãe me contou que essas manifestações eram frequentes; sempre interessado em mistérios aparentemente insolúveis, decidi conhecer Yasmin tête-a tête e agir em seu favor, ajudá-la. Não me esforcei quase nada para convencê-la a sair comigo, apesar de minha aparência física mostrar-me como um homem corcunda, que tem no rosto um nariz desalinhado e na boca, terríveis lábios leporinos, o que não se vê no primeiro momento é o meu talento em hipnose, sou especialista em conquistar fêmeas, dizendo certas palavras, na sonoridade e vibração corretas, executando gestos bem delineados no ar, proibidos de serem descritos detalhadamente.

Fomos ao cinema, o que me deu a chance de concluir algumas coisas a respeito de Yasmin, já sabia como ajuda-la, estava claro, era questão de tempo até uma nova crise... perto de sua casa, ela começou a ladrar e a ganir, freneticamente passava a língua pelos lábios, aparentemente era mais uma de suas crises demoníacas.

De maneira rude a segurei pelos cabelos, fitando confiantemente os seus olhos sem expressão, beijei-lhe a boca, sem chances de se desvencilhar de minhas mãos grossas. Cessaram os sons assustadores. Gemia, mas agora, porque sentia um novo prazer, carnal e libertador. Rasgava-se enquanto lambia seus mamilos intumescidos, nos mordíamos um ao outro como possuídos pela lascívia. Penetrei-lhe na posição em que as virgens devem ser desseladas, de quatro. Yasmin, era a personificação do diabo, um diabo bem conhecido, mas explicável pela privação do sexo, pela desejo que há em algumas mulheres de natureza hiper sensível, que em seu caso era mal usufruído pelo namorado o que a levara a parecer uma possessa.

Depois que gozamos, tornei-a então liberta, calma e segura, nunca mais haveria de ter outra crise. E quanto a mim, tornei-me seu libertador, o libertador da possessa de Sampa. Amém.

Homem de preto
Enviado por Homem de preto em 24/05/2012
Reeditado em 15/05/2020
Código do texto: T3684902
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