MOTIVAÇÃO
A cidade estava acordando, e aquela mãe com seu filho no colo aguardava sentada o ônibus que o levaria para a creche. Observando a cena comum logo adiante de mim, sigo em frente pedalando minha bicicleta e aproximando-me deles. Ao mesmo tempo meus pensamentos procuravam a motivação para mais um dia de rotina que começava. Não imaginava que esta busca estava tão perto de terminar.
Entre a maioria dos mortais, as primeiras horas de uma fria manhã é o melhor momento para encolher-se na cama e esticar o sono mais um tanto. Com os termômetros marcando poucos graus, e o brilho das luzes ainda opacas pela neblina, senti pena daquela criança tirada das cobertas naquela hora. O pequerrucho já enfrentava seus primeiros sacrifícios dos muitos que terá pela frente a fim de poupar grandes sofrimentos.
Passando mais perto daqueles dois que se apertavam, num olhar de viés notei a mãe inclinando-se com o rosto bem perto do filho. Entre sorrisos e cochichos ela começa a cobrir com beijos a face do pequeno, apertando-o mais ainda contra seu corpo. À medida que a distancia entre nós aumentava, despedia-se dos meus ouvidos o som dos carinhos e brincadeiras entre eles. Continuei a pedalar sentindo-me respingado pelas águas de uma cascata de afetos despejando sobre o cálice daquela criança.
O amor manifestado de forma tão pura, em quaisquer condições, motiva e dá ordem de despejo ao medo e desalento. O pesar pela mãe e filho que velava meus sentimentos naquela manhã travestiu-se de luz e ânimo. A grata surpresa ao testemunhar aquela ilha de calor e meiguice cercada pela fria neblina aqueceu minhas emoções. Tomara que eles também tenham tido um gracioso inicio de dia como o que sutilmente me deram.