As Greves Que Nunca Vi.
As Greves que eu nunca vi
Jorge Linhaça
É interessante parar e refletir sobre as tão famosas greves.
Ao longo dos anos já vi greves de diversas categorias sociais, do funcionalismo público e da iniciativa privada. Algumas greves manipuladas pelos próprios patrões através de sindicatos pelegos com a finalidade de aumentar seus lucros, como, por exemplo, greves de ônibus para forçar o aumento do valor da passagem, afinal os concessionários do transporte público mantém uma frota de dar inveja a qualquer carrão importado e faturam “muito pouco”, coitados.
A categoria que parece mais fazer uso da greve é a dos professores, não importa em que estado ou município eles estejam, logo a seguir veem a saúde e a segurança pública.
Em anos eleitorais então, as greves pipocam pra todo lado.
Enquanto escrevo tomo conhecimento que os motoristas de ônibus entraram em greve em Salvador... Infelizmente para reivindicar salário... Nenhuma alusão ao estado da frota ou à buraqueira da cidade.
Só ao salário. Aqui em Salvador ônibus é caso de polícia e parece que ninguém percebe. Uma frota envelhecida, motoristas e cobradores despreparados para lidar com o público, um curral cercando a catraca. Enfim: Aqui, mais do que em qualquer outro lugar, o povo é tratado como gado. Literalmente.
Agora o Jornal anuncia greve dos metroviários e ferroviários em São Paulo.
Pra mim metroviários, ferroviários e rodoviários são idiotas, desculpem a clareza, ao invés de prejudicar a população, liberem as catracas...e que se dane quem lucra com as passagens. Mas preferem dar tiros no próprio pé. Prejudicam quem não tem nada com isso.
Outra notícia interessante...O alquimista e o serrote conseguiram privatizar uma linha do metro. Vai gostar de privatizar assim na casa do chapéu. Resta saber que parente deles lucrou com essa concessão e mais do que isso, se a tal concessionária investiu alguma coisa na construção das estações ou se, como sempre, usaram nosso dinheiro para construir e depois repassaram para as concessionárias.
Estradas, ferrovias, Rodoanel, metrô....é a festa da privatização.
Interessante que nunca vi greve de deputados, senadores, vereadores, prefeitos, governadores... Mas existem algumas explicações bem plausíveis para isso.
1- Se fizerem greve o povo vai é comemorar e exigir o corte dos vencimentos deles.
2- Ninguém vai sentir a menor diferença se eles estiverem em greve, afinal eles já vivem em estado de greve há décadas.
3- São eles mesmos (ou seus pares) que determinam o aumento salarial de suas “categorias”.
4- Se fizerem greve não podem assegurar os extras das suas maracutaias.
5- Greve só pode fazer quem trabalha.
Uma greve dessas “categorias” e outras como ministros, juízes e desembargadores seria o equivalente aos moradores de rua e desempregados fazerem greve.
Já a educação, a saúde, a segurança pública e o transporte público não são serviços essenciais, senão na hora de julgarem as greves.
Se fossem serviços essenciais no resto do tempo, por certo que os profissionais receberiam um salário digno para exercer suas funções.
Aliás, essencial aqui é ser político, encher os bolsos com “Bolsa- terno”, “Bolsa transporte, (avião)”, ”Bolsa- papel sulfite”, “Bolsa-correio”, “Bolsa-combustível” “Bolsa-carro”, “Bolsa-moradia”, ”Bolsa- hospedagem”, “Bolsa-cargo de confiança” e por aí afora.
O que é mais engraçado é que parte da população brasileira fica revoltada com a tal “Bolsa-família” que mal põe comida na mesa de quem a recebe, mas ninguém se importa com essas outras bolsas.
Alegam que a “bolsa família” serve para sustentar vagabundo, mas, e essas outras bolsas fornecidas a quem já ganha muito bem pra fazer pouco ou nada?
Conheço muita gente que recebe bolsa-família e que ainda assim trabalha na roça ou no serviço braçal, portanto não vejo como meio de sustento de vagabundo. Já as bolsas-mordomia...
Que tal compararmos dos direitos dos trabalhadores com os direitos dos políticos?
Trabalhador só recebe roupa de trabalho se for uniforme e nenhum deles é feito “sob medida”.
Nenhum trabalhador vai sair por aí desfilando o uniforme de porteiro, de peão de fábrica, etc, em festas e baladas.
Já nossos parlamentares e etc, recebem ternos de grife.
Nosso trabalhador recebe (quando recebe) vale-transporte, para utilizar transporte público e andar espremido já os nossos parlamentares tem carro com motorista particular, combustível e, dependendo da distância, vão de avião. Quase igual.
Enquanto os funcionários públicos recebem “vale- coxinha” já que os vales refeição só dão pra isso mesmo (principalmente dos professores) as verbas de gabinete cobrem banquetes em restaurantes caros.
Enquanto o trabalhador se divide em várias funções, tendo de organizar seu dia de trabalho, fazer relatórios, cuidar de suas coisas pessoais nos intervalos e etc, nossos parlamentares tem um exército de funcionários de gabinete pagos com nosso dinheiro para fazer isso.
Enquanto o trabalhador se divide em dois para pagar aluguel e/ou prestação da casa própria, nossos parlamentares ficam em hotéis ou apartamentos suntuosos mantidos com nosso dinheiro e com direito a empregados.
Se o trabalhador falta ao trabalho é rapidamente descontado no seu dia e mais o fim de semana, já os parlamentares se não forem trabalhar dão uma desculpa qualquer como “estava me reunindo com minhas bases” e fica tudo certo.
Se o trabalhador precisa de assistência médica, pobre coitado, lá se vai para as filas do SUS ou coisa parecida e reza para ser atendido antes da doença se agravar.
Já os parlamentares vão para os melhores hospitais e clínicas do país, seja em seu próprio estado ou naquele que escolherem, às custas de nossos impostos.
Os filhos e familiares desses senhores não frequentam os serviços públicos, por isso estão se marimbando para quem os utiliza.
Se algum “despreparado” desses senhores resolver o problema da educação, saúde e segurança, em nosso país ou em nossos estados, vão dizer o que nas próximas campanhas eleitorais?
Ficam sem plataforma política, por isso é necessário manter a precariedade dos serviços públicos. Para discursar como Salvador da Pátria eleição após eleição.
Apenas como exemplo:
Em São Paulo, um mesmo partido governa há mais de 20 anos e, a cada eleição continuam prometendo resolver os mesmos problemas. Pombas! Se em 20 anos não fizeram nada além da mandar a polícia sentar o sarrafo no povo, vão esperar quantos anos para fazer?
“E a plateia ainda aplaude, ainda pede bis, a plateia só deseja ser feliz.”
Durma com um barulho desses!
Salvador, 23 de maio de 2012