Deixei meu tipo lá na esquina
Quase todo mundo dá apelido para o carro. Lembro de uma amiga que chamava o seu de Elefante e ninguém entendia, o carro era pequenininho. Mas é vermelho, ela explicava, como a massa de tomate. Um amigo designava seu fusquinha de Pois é. Só anda movido a álcool, ele completava. Quando crianças, chamávamos um Chevrolet que papai teve de Bolé-bolé. O próprio Fusca é derivado de Volkswagen, porque o V para os alemães soa F e quando apareceu era difícil falar. Nesse quesito não sou muito criativa, então até há pouco chamava meu carro de Pretinho. Agora que troquei, virou Beginho, que alguns ouvem Beijinho. Seria até simpático se não lembrasse a China e por isso eu não gosto. Anos atrás tive um que nem precisava de apelido, eu confundia sempre as pessoas porque falava do meu tipo. Dizia que ia pegar meu tipo e dar umas voltas, ou que tinha deixado meu tipo lá na esquina. Tinha gente que pensava que eu era mascarada, a cada hora me apresentava com um tipo. Fazia tipo. Como assim, deixou seu tipo? Agora tem outro tipo? Tipo o quê?... Tipo-tipo cá, tipo-tipo lá... é tipo-tipo no fubá, eu respondia cantarolando. Na verdade, era um modelo da Fiat chamado Tipo, fabricado na Itália. Pena que tenha saído de linha, pois além de bom, bonito e ágil, era também bastante confortável.