corda bamba wi-fi

Super,

No frio de Curitiba estou remontando passagens bem antigas, meu caro, de uma época em que eu achava que a felicidade estaria no futuro, de braços abertos, ali na frente; me esperando. Hoje estou aqui na frente e tenho a sensação de que era lá no passado que se era feliz. Naquele velho esquema de esperança e saudosismo. Esperança de um melhor por vir e saudosismo do tempo bom que já se foi.

Parece-me uma antinomia gratuita pela qual teimamos em pagar um preço alto: o da insatisfação a qualquer preço – o que nestes tempos de crise europeia e dólar em alta cai como uma luva na relação custo benefício; e olha que eu sou do tempo da crise asiática e da URV – (viu o saudosismo como justificativa de alguma coisa?).

Mas esse vai e vêm explicativo é coisa de gente grande, criança só quer saber o porquê; como se isso fosse indissoluvelmente pequeno para se espreitar atrás da porta enquanto elas veem os adultos discutindo sobre a troca do carro ou a reforma da cozinha.

Eu lembro que diziam que eu havia amadurecido cedo demais, e começo a concordar com isso. Amadureci muito cedo; tanto que me vejo sofrendo de uma crise de meia idade aos vinte e seis anos. Mas se eu tivesse um bom trabalho e gostasse dele e ele ainda me remunerasse do jeito que todas as pessoas próximas acham que eu mereço... nossa, seria fantástico. Se eu tivesse sido jogador de futebol, roqueiro ou caixeiro viajante... as três coisas, seria muito bom. Fiquei no anonimato das letras não publicadas como se elas fossem um contracheque eterno para pagar as contas que eu não faço.

Mas dentre todas as possibilidades de uma vida inteira, fiquei com aquela que me permite estudar sem fins lucrativos a profundeza dos extremos e a razão do meio, como se as mais perfeitas simetrias se perdessem lá na linha do horizonte, onde deus passou o traço com a régua e depois borrou com o polegar salivado para fazer algumas montanhas.

Mas de todas as contradições que a escrita nos autoriza duas estão em constante afrontamento por aqui: A do porque e do porque não e a da cadeira de lata.

Na antinomia do por que e do por que não das coisas você encontra quem lê um livro ruim duas vezes para saber por que não gostou, e quem relê um bom conto para saber o que tem de tão especial. Eu já li um livro três vezes para encontrar o equilíbrio inconstante da criança que sobe nos patins sem saber se deve parar em pé ou sair patinando. Da primeira vez a leitura foi rápida e não digerida o bastante. Da segunda, ruminada demais que ficou sem gosto. Da terceira; nem lembro já que as passagens estavam quase decoradas. Dentro dessa lógica eu acho que residem o cético e o dogmático, o belo e o feio, e eu e você. Antinomias que existem para coexistirem. Uma dá vida e graça à outra, como um grenal, ou melhor, um atletiba já que esta é uma carta escrita daqui.

Você nem deve ter conhecido aquelas cadeiras de lata, mas elas eram filosoficamente uma arma. Quando sentava bem na ponta, parecia que ela ia cair, mas não caía, nunca. Em contrapartida, sentando bem para trás ela te dava uma sensação de segurança, mas, quando menos se esperava, ela se fechava com a pessoa sentada dentro. Visualmente relacione com uma planta carnívora que espera a presa relaxar para fechar e fazer a festa.

Mas se não tiver muito tempo para decifrar todas estas besteiras pseudoimportantes, para então saber como eu estou, me permita sugestionar que visualize uma corda bamba sem corda. Na minha época imaginávamos um telefone sem fio. Imagine uma corda bamba wi-fi.