Crônica #096: CHUVA SERÔDIA, FRUTOS SAZONAIS E TEMPORÃOS
Crônica #097: CHUVA SERÔDIA, FRUTOS SAZONAIS E TEMPORÃOS
Num certo fim de semana desses, tive o prazer de receber para um café da manhã o Zeca Split Kadínio e D. Débora e o nosso vizinho, ao lado, Délio Naldson e D. Rebheka.
Débora e Rebheca entraram em casa e, enquanto ela punham o papo em dia, fomos lá para palhoça de sapé, ao fundo do quintal. Era uma palhoça rústica, de uns 5m de diâmetro por 5m de altura, com um teto de acentuada queda d'água. O pé direito da palhoça era de 2,70m. Era uma obra de um exímio artesão. Dava gosto de ver aquelas incomuns tesouras se apoiando num pequeno rolo de Madeira de uns 0,35m de diâmetro determinado o momento zero, o ponto de equilíbrio daquele enorme chapéu de bruxa, o cônico telhado de sapé. Um lugar romanticamente bucólico.
Nossa improvisada sala de bate-papo, um lugar mui aprazível, cercada de sentareis frutíferos: goiabeiras, aceroleira, laranjeiras, limeiras, limoeiros, sem contar mangueiras de várias espécies, sapotizeiros, coqueiros, e muitos outros pés de seriguela, jenipapo, sapoti, cajarana, mamão, banana e algumas outras espécies.
Não bastasse tudo isso, a refrescante brisa vida do brejo ao lado do pomar torna o lugar paradisíaco.
Tomado o café, descemos para o pomar. Encontramos muitas mangas temporãs; umas intactas e outras bicadas por passarinhos. Um cesto de vime esquecido ali jogado veio bem a calhar. Abaixei-me e comecei a colher somente as boas, desprazendo as bicadas.
- "Porque está desprezando justo essas, Od? Não sabe que estas são as mais saborosas?" Meneei a cabeça em sinal negativo.
- "Pois é! Os passarinho sabem mais que nós qual é a melhor. Não devemos desprezá-las por causa disso."
- "Mas Split! Isso aí deve está contaminada. Vejam só! Notou aqui essa resina ressecada?"
- "Claro que vi! É uma fito-cicatriz, ou seja, a própria mangueira gerou a cicatriz, isolando-a e protegendo-a. É algo semelhante a cicatriz em nossos ferimentos. Se vocês não querem, deixem. É comigo mesmo."
Trouxemos nossa colheita para a mesinha da palhoça. Lavamos bem as mangas e fomos saboreá-las. O Split lavou bem as mangas e removeu-lhes as cicatrizes, contando ao redor um centímetro de margem de segurança. Um perfeito cirurgião fitológico.
Resolvi experimentar um pedagogo da manga ferida e pude comprovar a teoria do Split, vindo a concordar com ele.
- "Um fruto desses não se pode desperdiçar, inda mais, sendo Temporão.", disse o Split.
- "E por que não?", perguntou o Délio.
- "Ora, Délio! Uma mangueira dessa produz milhares de mangas numa safra. Mas, sendo a entressafra, são frutos temporãos são de excelente qualidade. A mangueira produz menos frutos, mas seiva é destinada às mangas, por isso sendo estas mais saborosos.
Eu e o Délio tivemos de concordar, visto ele falar com tanta segurança e propriedade.
- "Deve por isso que o meu Tio Nilson tem um apego muito especial por meu primo Júnior. O caçula dele já tinha dezoito anos e meu Tio 53, minha Tia seus 39 quando o Júnior nasceu. Tio Nilson sempre se refere a ele como o filho "Temporão". Concluiu.
- "Ah! Também feve ser por isso que o Reverendo Francisco no sermão passado pregou sobre Frutos do Espirito e frutos da carne. Agora entendo a que se referiu. Como árvores plantadas junto a manancial de água do Espírito de Deus, devemos procurar produzir frutos, ganhar vidas para o SENHOR em todo o tempo, até na velhice, quando produzimos menos frutos pelas limitações da idade, mas tem que ser de melhor qualidade, pois este é o nosso fruto temporão, especial para Deus."
Que o SENHOR abençoe a todos!
A ADONAI Elohim toda honra e toda a glória!