O prédio e o João de Barro: o que mudou?

OBS: esse texto foi um dos primeiros que eu escrevi no meu blog. Achei honesto dizer que não é uma publicação recente- apesar de ser um dos primeiros aqui- mas acho a discução que ele faz interessante.

Tanto fala-se atualmente sobre um meio termo entre desenvolvimento e preservação da natureza, felizmente muitos adotam essa visão e tentam modificar seus hábitos: são empresas que adotam sistemas de reaproveitamento da água em seus estabelecimentos, países que buscam formas de geração de energia limpa, multinacionais que usam material reciclado para fazer seus produtos. E os gestos mais simples? E a torneira que o morador anônimo do prédio desconhecido fechou, enquanto escovava os dentes?

Deparei-me com um gesto simples, observando um prédio que passa por uma reforma. Tal prédio tem talvez uma dezena de casas de joão-de-barro. Os trabalhadores fazendo seu trabalho, mas as casas dos pássaros seguem ali. Poderiam os sujeitos derrubarem as casas, algumas até mesmo desabitadas, mas tiveram o cuidado de deixá-las intocadas.

Por quê? Por que a humanidade precisa da natureza. Por que algumas pessoas seriam capazes de abandonar suas vidas nas cidades por uma vida no campo? Por que a humanidade precisa da natureza. Por que as empresas, de pequenas a multinacionais, e os países, estão se preocupando com a natureza?Por que a humanidade precisa da natureza.

Enquanto pensava que a natureza era infinita, ou ainda, que se restaurava, a raça humana usou e abusou. Quando viu e foi capaz de prever o fim de muitos recursos, passou a preocupar-se. E o que estaria preservando o trabalhador, quando poupou a casinha do pássaro? Além do próprio pássaro, todos os outros seres vivos que dependem do pássaro.

A força do ser humano em relação à natureza é também sua fraqueza: pode destruir tudo, abusar de recursos, sem estar fazendo mais do que destruir a si mesmo. O gesto dos trabalhadores não foi algo digno de um prêmio, mas simplesmente uma ação sensata. O prêmio que receberão esses sujeitos é deixar para a próxima geração de moradores do prédio algo mais do que concreto e tinta. O prêmio é deixar para o mundo algumas dezenas de vidas.

Pouco importa se foi o engenheiro, o pedreiro, o pintor, o arquiteto, ou a moradora que reclamou, foram as pessoas que pouparam as casinhas.