UM ABRAÇO

Quando chega o instante em que você imagina que sua vida é pequena demais, insignificante demais e que você passa pelos outros apenas de raspão, ou como uma brisa bem suave que mal dá para sentir o toque. Você olha para um lado, olha para o outro e enxerga pessoas indo e vindo e nenhuma permanecendo. Até te procuram, mas para pedir ajuda ou favor, para contar algo, para perguntar qualquer coisa, para bisbilhotar. Mas com o intuito de apenas te dar um abraço simplesmente porque sentiu essa vontade? Ou para saber como está levando os dias? Não, para isso nunca.

Falta envolvimento, falta comprometimento, e sobra indiferença. As pessoas acham que abraçar é apenas envolver com os braços mas desconhecem que o ato em si é abrangente. Significa envolver-se também, significa deixar os corações se aproximarem no encontro dos peitos, significa que o ombro pode servir de apoio. Faltam abraços. Faltam colos. E você novamente olha para os lados e encontra pessoas, mas não acha nem abraços, nem colos e nem ombros.

Os gestos vão diminuindo, as bocas vão se calando e as lágrimas vão transbordando dos olhos. Tudo passa a ser sem sentido. Tudo passa a não ter mais valor. A insignificância dos gestos toma conta das pessoas e esses sinais tornam-se pesados demais para se sustentarem por si mesmos.