Berlim
Por acaso, nos últimos dias Berlim andou na berlinda na minha cabeça. Na semana passada nasceu o filho de uma sobrinha que por lá está vivendo. Portanto, agora tenho um sobrinho-neto alemãozinho, de mãe brasileira e pai inglês. Hoje, a fisioterapeuta com quem pratico Pilates vestia uma camiseta com dizeres daqueles que têm um coraçãozinho no meio: Eu amo Berlim. Muitas lembranças me vieram à memória. Não pude deixar de fazer comentários sobre a única vez em que visitei aquela cidade. Em outros tempos, quando ainda era dividida pelo Muro da Vergonha, nos idos de 1967. Com o país também dividido, Berlim ficava lá dentro da Alemanha Oriental. Por isso minha amiga e eu, que viajávamos de carona com um casal alemão, ficamos assustadas ao passar pela fronteira. Da Alemanha para a Alemanha. Parecia que estávamos dentro de um desses filmes de guerra! De repente a autoestrada virou um corredor cercado por rolos de arame farpado. Fileiras de guardas vestidos de longos sobretudos vigiavam tudo, empunhando metralhadoras. Tivemos que sair do carro para que todos os seus cantos fossem examinados. Nossas bagagens foram minuciosamente revistadas. Mandaram que mostrássemos tudo o que tínhamos nos bolsos, além de contar nota por nota o dinheiro que havíamos declarado possuir. Só fomos liberados depois de tudo isso e após conferirem quinze vezes nossas caras com as fotos dos passaportes, que passavam das mãos de um guarda para outro.
Achei Berlim bonita, porém triste naquela circunstância, com vários prédios ainda semi-destruídos. O único lugar com certa animação era em volta de uma grande avenida que lembrava os Champs Elysées. Por curiosidade estivemos também do outro lado do Muro, depois de passar por outra duana (carimbando passaporte e tal) à entrada do metrô. Obrigadas a cambiar uma quantia de dinheiro, deram-nos o prazo de duas horas para a visita, que certamente seria vigiada, imaginamos. Naquele lado da cidade tudo era sombrio e a tristeza reinava. Jamais vou esquecer a expressão desolada estampada no rosto das pessoas com as quais cruzamos e que ali viviam como prisioneiros, apartados de familiares e amigos. Se tentassem a fuga, sabemos todos que era morte certa, metralhada.
Ainda bem que tudo mudou e hoje Berlim com sua fervilhante vida cultural é uma das cidades mais atraentes do mundo. Quem sabe um dia eu ainda volte a visitá-la.
imagem google