O ASILO -56
Quando te vi entrar por minha grande porta, cabelos, brancos como algodão presos a nuca, passos pequenos, indecisa, mais parecendo uma criança, confesso, eu que sou com isto acostumado, fiquei com o coração doendo, apertado.
Teus olhos súplices, com tristeza procuram os dela, que caminha firme, resoluta, não percebendo tua amargura, neste momento de angustia.
Filha insana, que ora a mãe aqui abandona, nem olha para trás, desvencilhando-se, como de uma carga, agora incômoda.
Esta mulher vencida, pelo que seria uma dádiva, ter muita vida, num corpo cansado, carcomido, encurvado, é aquela mesma, que nunca saiu de teu lado e um dia jovem te recebeu, te deu seu corpo, como doação maternal, com seu sangue e seu leite te alimentou e pela mão também a todo lugar te levou.
Agora também o fazes, só que para este lugar triste é que a trazes e não como ela para ti o fez, levando-te a escola, ao teatro e ao cinema, tendo sempre um olhar terno e protetor, mesmo tendo muitos problemas ao seu redor.
Enquanto filha não esqueças, que a vida para todos é efêmera e que a juventude se esvai numa cortina de fumaça, e a velhice logo chegará e te digo mais, é em nós que está toda a resposta, nascemos frágeis, precisando de amparo e no final, tudo se repetirá.
Rogue a Deus, para que quando chegar a tua vez, teus filhos não tenham herdado tua pequenez e ao menos um com muito amor te ampare, embora ingrata... Para tua mãe, não tiveste esta honradez...