A Aritmética das Relações de Consumo

Recentemente, ouvi de um amigo uma situação até comum para os dias de hoje mas que encaramos com certa naturalidade incômoda. Há 8 anos era fiel a determinada operadora de celular, pagando pontualmente pelos serviços prestados.

Eis que, em certo mês, não quitou a fatura em tempo hábil, atrasando-se por algum momento. Não recebeu uma correspondência alertando-o ao fato ou mesmo comunicando-o. A empresa foi taxativa em avisá-lo que o serviço seria suspenso na data x.

O que me incomoda e me torna este ET anacrônico que muitas das vezes é o cronista não foi a preocupação da operadora em receber mas o descaso que fez do tempo de fidelidade do sujeito. Isto não acontece só nesta ou naquela empresa, é o vírus da competitividade e do gerenciamento exclusivamente matemático que vem atirando gelo nas relações de consumo. Não é só o funcionário que é tratado como número. Freguês virou cliente e não tem credo, etnia, time do coração, medo ou mania, é apenas estatística monetária.

Nunca houve tanta distância entre empresário e consumidor e não me refiro a uma ideologia caduca que prega a presença constante do dono da multinacional mas a um maior humanismo nas relações de consumo. Não quiseram saber o porquê do atraso do indivíduo citado pelo fato dele não ser gente para a operadora mas número, estatística, elemento de Excel, tabelinha de rendimento. E deixando de ser gente, ele não existe enquanto pessoa e só possui direitos porque a lei manda, senão pouco seria considerado. A empresa não o ultraja não é por que o respeita mas por temer a multas e indenizações.

Experimente efetuar alguma reclamação a seu plano de saúde, por exemplo. De certo, irão remetê-lo de um ramal a outro, através de um discurso formalizado e frio. Colocarão música de consultório de dentista para você perder a paciência e não ser atendido. Ou seja, é como se não houvesse contato real entre consumidor e fornecedor.

Convido o leitor a fazer um teste nas empresas em que consome. Como elas lidam com o ser humano? Como seus gerentes, proprietários e presidentes convivem com os outros funcionários? Estes costumam se manter lá por bastante tempo ou se trata de um rodízio de empregados? Este pode ser o reflexo de como esta empresa o enxerga.

Giu Santos
Enviado por Giu Santos em 20/05/2012
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