Sensibilidade
 
Como não tenho um pé de café cheio de frutos, meu projeto de vida atual é um pé de tomates. Aprendi que não é preciso comprar as sementes; é só separar uma fatia da salada no restaurante e enrolar num guardanapo. Deixar secar, pegar uma única sementinha e plantar. Daí em diante é só sentir o perfume das folhas e dos tomates crescendo... E aí, um pé de tomates nos leva a viajar nos pensamentos nesta manhã de domingo de meio do ano. Ou mesmo plantar sementes de alface e esperar dias e dias e elas não brotam. Aí, depois de uma tempestade, as sementes começam a nos mostrar que vão crescer bonitas e deliciosas!

A sensibilidade nasce conosco e  passa por situações que estão à flor da pele, transbordando sempre. Se isto é bom, ainda não sei. Muitas vezes eu gosto de ser sensível, quando vejo uma foto que me transmita algo bonito; ou ouço uma música que me leve onde eu quiser. De outro lado, captar o sentimento de nosso próximo muitas vezes resulta num desastre. Fazemos planos, geramos expectativas boas e quando acontece, é uma decepção total. Voltamos para casa desolados, não é assim? 

 

Podemos tentar consertar os desastres que as pessoas fazem acontecer, cujos  pensamentos falam alto, no entanto as marcas vão ficando e torna-se impossível voltar ao que era. Precisamos de umas experiências, boas ou ruins, para acordar a razão e recomeçar a viver de outro modo, completamente diferente do que estamos acostumados a viver. A minha ternura pelas pessoas faz parte do Meu Mundo e não dos outros. Nada é do jeito que a gente deseja de nossa vida.  As amizades que pensamos que ficam  saem do lugar,  não podemos alimentar uma experiência que tivemos muitos anos atrás e achar que tudo será como era. Dar corda a essas lembranças não nos trazem alegrias, pelo contrário, vai nos machucar mais e mais e mais, porque de repente um dia alguém de longe vai nos dar um saculejo e mostrar que nada será como antes.  As pessoas mudam, vivem em diferentes casulos, mesmo não sendo borboletas. Precisamos dar um basta a tudo e não em partes. Precisamos aprender a caminhar com nossas prioridades e não as prioridades dos que se afastaram da gente, por ter um estilo de vida diferente, por ter uma maneira de pensar completamente divergente da nossa, por ter crenças que não são as nossas. E assim a vida continua para todos, em seus castelos ou em casas de estuque. Eu nunca fui de programar o que vou vestir num evento. Saio catando algo que me caia bem e sempre combino cores, herança de sonhos de criança. Entretanto, minha sensibilidade diz bem baixinho que não é a roupa que vou vestir que vai me trazer amigos, nem meus olhos verdes.

Conheço uma pessoa que a natureza não foi bondosa com sua aparência física; entretanto, é um dos seres humanos mais lindos que eu conheci na vida. Ouvir sua voz, hoje muito debilitada pela idade, é uma dádiva. Adoro ouvi-la contando das minhas peripécias quando criança. Coisa mais bonita é ouvir alguém real falando de nós com amor... Como minha mãe cortava meu cabelo de palha de milho – colocava uma cuia na cabeça para fazer o contorno. Ficava lindo, redondinho e louro. Como eu ganhava retalhos de tecidos de chitão porque subia no caminhão de propaganda da loja e cantava o mais alto que podia. Como eu tomava conta de seu filho para que ela lavasse as suas roupas. Eu podia tomar conta só olhando para aquele bebê lindo e era proibida de pegá-lo no colo. Ela virava as costas e o bebê vinha para os meus bracinhos e eu ficava toda feliz!

A sensibilidade é algo que poucas pessoas de nosso convívio possuem. Tem gente que se delicia com o funk.  Algumas pessoas choram nas celebrações religiosas e outras riem de tudo, até das tragédias que se abatem em todos os lugares. A minha sensibilidade alcança o virtual, o real, o imaginário, o verdadeiro. Com ela choro ao ouvir uma musica que tem letra de poesia. Dela faço um conjunto de palavras que é chamado de poema.

O que preciso aprender, com urgência, é ter  sensibilidade suficiente para catar o café na roça, grão a grão, separando os que estão impróprios para uso.


 
Domingo frio de final de maio, 2012
Imagem FB
 
 

Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 20/05/2012
Reeditado em 09/07/2023
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