Uma homenagem singela

O ano era 2003.Após lecionar por mais de 25 anos, sabia ser este,

seu último ano escolar, com a turma da E.E. Cláudio Abrahão, pois

cumprira seu tempo para a aposentadoria.Havia reservado uma licença prêmio, a qual planejara usá-la, sendo uma parte no primeiro semestre

e, a outra, em agosto.

Quando chegou o dia 26 de maio, avisou seus alunos que ficaria 45 dias de licença,retornando às aulas, somente no final de julho, depois

do recesso.Os alunos da 5ªSÉRIE C, sua classe de coordenação, fica-

ram inconformados, não aceitavam a separação.Três alunas, mais li-

gadas à professora, imploraram, choraram e insistiram para que ela desistisse, entretanto, a decisão já estava tomada, explicou aos alu-

nos que perderia o direito à licença, que não havia outra alternativa

Uma das meninas, a Taís, perguntou-lhe se não poderiam ficar juntas, as quatro, pelo menos por alguns minutos.Lembrou-se de que teria

a 2ª aula vaga. Ao saberem disso, elas lhe pediram que falasse com

profª de Matemática, a fim de obterem a dispensa da aula. Após con-

sultar a profª, informou às alunas sobre a permissão. Ao dar o sinal,

subiu com as alunas até o pátio.Teriam 50 minutos de exclusividade,

para realizarem o sonho, já idealizado, porém guardado em segredo,

por elas, até aquele momento.As três pediram que ela sentasse num

banco, em frente à cantina e esperasse uns minutinhos.Compraram:

tubaína, coxinha, salgadinhos, bolachas recheadas e trouxeram à mesa, sentando, em seguida, ao redor dela. Então era isso...um pi-

quenique! Surpresa, sem reação, notou o brilho de felicidade no olhar

das meninas, as quais lhe serviam e insistiam para que comesse e be-

besse.Tentou argumentar, dizendo que não precisavam se preocupar

com ela e não deviam gastar dinheiro consigo. Elas alegaram que tu-

do aquilo era muito pouco e ela merecia muito mais, por ser uma ver-

dadeira mãe para elas, na escola. Novamente insistiu ser um exagero,

mas as três ignoravam suas palavras. Uma delas fez um comentário

sincero e inocente:"Sabe, professora, eu nunca como coxinha aqui, porque é caro!"Enquanto as meninas serviam-lhe o refrigerante, obser-

vou que comiam timidamente os salgadinhos e voltavam a insistir,co-

locando a coxinha em suas mãos.Tomou a decisão acertada:dividiu a

coxinha com as meninas e saboreou devagarinho e com prazer,tudo o

que elas lhe ofereciam com amor e dedicação.E as quatro comeram e

tagarelaram até tocar o sinal porque, internamente, elas sabiam ser aquele momento especial em suas vidas e, aquela sem dúvida, uma

homenagem singela, singela e preciosa, certamente!...

Marlene Couto
Enviado por Marlene Couto em 20/05/2012
Reeditado em 20/05/2012
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