MINHAS DORES
Sinto dores... Mas elas estão em mim há tanto tempo que não as vejo mais como inimigas. São companheiras. Engraçado dizer dessa forma mas elas, as dores, são as únicas que me conhecem de verdade, que me vêem chorar, que ouvem meus lamentos e suspiros e que entendem minha agonia. E não preciso dizer nada. Enquanto pessoas entram e saem, minhas dores ficam. Permancem e fazem morada.
Por vezes já me perguntaram o por quê de não reclamar, ou contar a respeito, ou não chorar. Mas o que eu ganharia com isso? Acaso se eu disser que as possuo, elas serão amenizadas em meu corpo? E ainda tem outra questão: vão me perguntar que tipo de dor é ou de onde elas provêem e quando começaram etc. Mas ninguém sabe o quanto também dói ter que explicar. Não por ser doloroso falar disso no sentido de ser inconveniente, mas por ser assunto delicado, que mexe com partes do corpo não tão comuns de se comentar. E aí caio em outro patamar, o das dores morais. Ferem meu orgulho, minha vaidade e meu egoísmo. E essa dor não sei compartilhar, ainda não aprendi. E todos a quem tentei explicar algo, não consegui sair da dor física. Talvez por falta de interesse do ouvinte ou por incapacidade dessa interlocutora.
Por isso aprendi a conviver com elas, as dores, amigavelmente. Não me questionam, não vão embora. É certo que elas não me preenchem como um amigo o faria, mas elas também não me esvaziam na crença no ser humano. E no fim o que me restou? Sim, as dores, minhas fiéis companheiras.