Peças em argila construídas pelo oleiro Tião Paineira - Tiradentes, Rio de Janeiro


«A maior qualidade do bambu é o seu vazio interior que lhe permite a flexibilidade necessária para curvar-se e não quebrar perante o vento.»
(Do livro: «A Sabedoria da Natureza» - Roberto Otsu)


 


O VAZIO QUE NOS FAZ SENTIR COMPLETOS


A verdade que existe na sabedoria oriental sempre convidando à reflexão... O homem sempre será um ser incompleto. Sempre será um «menos» em busca de um «mais». O inexorável objetivo da sua existência é clamar sempre por vida longa, riqueza e perfeição. E este é o aspecto trágico da condição humana.

«Sinto um vazio dentro de mim, sinto-me incompleto!» Quantas vezes já ouvimos esta frase! Afinal que vazio é esse que nos faz sentir incompletos e o que fazer com ele? Na dúvida, acabamos achando que esse buraco é sinal de algum defeito nosso, e queremos preenchê-lo o mais rapidamente possível e não percebemos quantas «besteiras» acabamos fazendo na tentativa de preencher esse vazio que tanto nos faz sentir incompletos e tanto nos assusta.

Não raras vezes nos envolvemos em relacionamentos com pessoas com as quais não temos nenhuma afinidade, tratamos mal e pisamos o nosso amigo, compramos todo tipo de coisas das quais não precisamos e nos endividamos, comemos mais do que necessitamos, esquecemos de dar atenção à família, bebemos mais do que seria saudável, usamos remédios ou drogas desnecessariamente, tudo com a intenção de preencher o vazio que nos faz sentir incompletos. E mais, traímos a nossa verdade, a confiança em nós, sentimos vergonha de nós mesmos, criamos falsas máscaras para fingir que não somos ocos, mas o tal vazio continua lá, nos fazendo sentir incompletos.


Faltará sempre algo, pois o homem é um ser eternamente insatisfeito (palavras proferidas por tantos filósofos!). Pudéssemos parar um pouco para pensar, refletir, e conseguiríamos entender que nada há de errado em sentir esse vazio. Não há nada de errado em nos sentirmos incompletos, com essa sensação de que «falta algo».
Existe algo maior, mais belo, que cada um de nós tem para realizar ao longo da sua caminhada. Algo a que todos temos acesso, falo daquela grandeza interior que nos torna diferentes dos animais, que nos torna humanos, capazes de criar, capazes de nos relacionar, capazes de amar. Pois eu acredito que o vazio existe justamente para nos lembrar disso.


Que utilidade teria um vaso de argila ou de porcelana sem o seu vazio interior?
Às vezes penso que tudo que existe de belo no mundo se deve à existência desse vazio. Não há como nos livrarmos dele, mas podemos escolher o que fazer com ele. Podemos transformá-lo em um mar de lamentações, depressão, tristeza, mas podemos, também, transformá-lo em algo maravilhoso, criar algo com ele! Criar, esta é a palavra-chave para transformar o vazio que existe dentro de nós. Vamos criar: o universo está aí, à nossa espera, que tudo nele possa ser para nós, escritores, artistas, criadores, motivo de inspiração. Vamos enchr esse espaço vazio de amor, de coisas úteis e boas.
Saibamos aceitar esse vazio que nos faz sentir incompletos e permitir que ele nos inspire a nos tornarmos pessoas melhores.


Ana Flor do Lácio
Ana Flor do Lácio
Enviado por Ana Flor do Lácio em 19/05/2012
Reeditado em 19/05/2012
Código do texto: T3675898
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