Assalto às moedinhas

Era aniversário de um colega, já estava tudo preparado, reservamos um espaço em um luxuoso restaurante que para a realizarmos da comemoração. O pessoal começou a chegar, e após muita conversa, começaram os famosos cânticos de felicitações a ele. Com tudo finalizado o enorme banquete começou a ser servido, para o louvor do meu estômago, já que este não se aguentava de tanta fome.

Posso dizer que realmente meu estômago estava feliz, sem ferir a carteira. Desta vez era tudo por conta do aniversariante, e não mais um daqueles famosos golpes em que nós convidados pagamos a conta ao final.

De tudo isso, o que mais me encafifava era o garçom, enquanto minha mesa ele servia com um mau humor do cão, nas outras abria um sorriso que resplandecia nos lábios. Percebi a jogada, quando um senhor de paletó e gravata sentado na mesa ao lado deixou uma gorda gorjeta ao funcionário, antes do início do serviço. Fiquei a pensar: “Sempre dei gorjetas, mas não para ser servido melhore sim como um benemérito ao funcionário”.

Comecei a perceber a diferença que algumas notas além do valor cobrado fazem na mente do prestador de serviços. Seja no taxi, caso se queira chegar mais rápido evitando todo este trânsito da grande São Paulo, até ao simples açougueiro, caso se queira as melhores partes da peça de carne. Tudo, se você quiser um serviço melhor basta acrescentar uma bonificação ao pagamento já tabelado. Isso se tornou tão constante que se transformou em obrigação.

O ruim é que caso não se dê tal benemérito, você é intitulado como unha de fome, pão duro, egoísta, entre outros adjetivos mais. E como a fama corre, depois de um tempo, os amigos o vizinho, e até aquele tio chato sabem, o quão mão de vaca você é.

Acho uma petulância realizar com maior perfeição determinado serviço baseado em quanto se ganha além do valor cobrado.

Uma amiga passou algumas semanas em Cancun, e relatou que no exterior não é diferente, é até pior, o garçom pede na cara de pau o dinheirinho extra. Caso você se recuse a pagar tal quantia, o tratamento muda. Sua mesa passa a ser a última atendida. Muitos outros pedidos passam na sua frente, além de outras armações possíveis. Porém não são apenas os garçons, muitos outros serviços entram nesta jogada.

Acho certo quando se cobra, por exemplo, uma taxa de serviço em hotel, caso contrário apenas o carregador de malas, a recepcionista, e o rapaz que leva as refeições ao quarto receberiam um dinheirinho extra, enquanto o coitado que está lavando os toaletes ficaria sem nada.

Chego à conclusão de que o valor da gorjeta tem de vir do íntimo de quem utilizou tal serviço, e não ser imposto como uma obrigação. Imagine se o médico ou o cirurgião, para salvar a vida de determinado paciente, exigissem uma gorjeta a mais para a realização de tal serviço? Concluo que toda aquela ilusão de serviço bem feito para se gerar à merecida gratificação, transformou-se em necessidade para se obter um serviço de qualidade. Decidi: posso levar a fama de pão duro. Mas gorjeta comigo... só quando achar que merecem!

Vinícius Bernardes
Enviado por Vinícius Bernardes em 18/05/2012
Reeditado em 19/05/2012
Código do texto: T3675375
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