VIAGEM
Caminhar para esquecer as idéias loucas, ou a vontade paciente de sentar na areia, ouvir o mar, olhar o céu e imaginar o teu rosto na maior estrela possível.
Embalar ao vento e sonhar, sonhar. Ver uma alegria maior que o céu brotar no peito e ficar ali, esperando, sentindo tudo minuto a minuto... e depois libertar num grito exultante o teu nome. Enxergá-lo escrito por toda parte, na areia, no mar, no céu, pairando no ar, dançando, vibrando num ritmo alucinado, sem ruídos. Apenas o ritmo e uma melodia perdida no silêncio colorido da noite.
Correr.
Correr para abraçar o nada, fugir na euforia triunfante de quem perdoou a vida e esqueceu a morte.
Parar.
Parar para olhar o tudo e enxergar o nada.
Chorar.
Chorar de alegria, chorar de tristeza, chorar, só chorar. E sentir o vento gelando as lágrimas que vão para o mar. Olhar ao redor e ver apenas o vazio que está dentro. Um vazio imenso povoado de vultos. E o medo. Não de morrer. O medo de viver. De não compreender a razão dos vultos, nem dos medos.
Sentar no mesmo lugar, sentir a mesma areia, ouvir o mesmo mar, olhar o mesmo céu e não encontrar o teu rosto na maior estrela possível. Uma dor maior que o céu brotar no peito e ficar ali, sem nome, sem ritmo. Um nada.
Não viver, nem morrer.
E num olhar embaçado de lágrimas que não foram para o mar, ver teu rosto nascer com a lua, no céu, no mar, dentro de mim.