Prosódia

O Terso, que é um fascinado por texturas e cores, falou de uma porta que ele viu lá em Belo Horizonte. Alguém, por brincadeira, corrigiu dizendo que em BH a pronúncia correta é “porrrta”. O assunto esquentou, irrompendo uma leve briga, até que o alguém disse que não se briga por pronúncia, porque é o modo como a prosódia da palavra é realizada.

- Prosódia?

E veio a explicação que esse é o estudo do ritmo, da entonação e de tudo mais sobre como uma palavra é falada. É um termo que vem do Grego, aliás como quase tudo, alguém acrescentou.

- O churrasco grego, por exemplo.

- Churrasco grego?

- Aquela pilha de carne de quinta categoria, cheia de molho que se come do Setor Bancário ao viaduto do Chá.

- E chá? Tem lá no viaduto? - perguntou a Ana.

- Chá, tinha - respondeu alguém, para irritação dela.

- Hoje não, mas antes de sua construção os mascates vendiam chá na região.

Alguém reparou que só podia mesmo ser o da prosódia para acabar com o humor a troco de uma explicação boba. E por falar em troco, o da prosódia acrescentou que na inauguração do viaduto se cobrava três vinténs para se passar por ali. Do vintém foi-se aos cruzeiros e cruzados novos e velhos, boa parte do pessoal ouvindo como se ouve aula de história, até que no Real, alguém falou que o governo tinha que intervir mais.

- Questão filosófica - disse o defensor da teoria.

- E você lá entende de filosofia?

- Sou um apaixonado, mas acompanho de longe. É uma coisa meio platônica.

- Perai! - falou o Terso, interrompendo as risadas do grupo - como é que nós estamos falando de filosofia, se eu nem terminei de falar da porta de BH?

E todo mundo riu de novo. O da prosódia perguntou se alguém sabia quantos músculos eram usados para rir, e lá foi se foi o assunto embora de novo, porta a fora.

Alexandre H Torres
Enviado por Alexandre H Torres em 17/05/2012
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