OS LIMITES FAZEM OS MEIOS
Makinleymenino
Maio 2012
(Crônica)
Quando se constrói, sempre aparece um convidado ilustre, um vira lata. Ele surge faminto, amigo e repleto de assanhas. A obra necessária de vigilância adota este inusitado visitante imaginando os préstimos que ele possa produzir de alarmar, ladrar e despertar a atenção para qualquer nominal momento. Logo, se torna o dono de todo o perímetro e proximidades da construção, estranhando os invasores que adentram tal perímetro sem a presença de alguém do canteiro de obras que ele conheça.
No primeiro dia, o cachorro depura seus primeiros momentos de estadia com olhar de pobre coitado, no segundo, conhece e cheira cada peão querendo algo de comer das suas marmitas na hora do almoço. No terceiro dia, late e rosna para qualquer estranho visitante da obra. Daí por diante, o cachorro vira o cão e quer pegar todo mundo dentro fora da obra!
Nesta vida tudo tem a sua gota d’água, os limites que fazem transbordarem os rios, explodir as guerras, entre outros, altera todos os estados da normalidade. Dizem que depois da “clausura vem à liberdade sem limites”, vem à força do destino como o tremor nas águas dos oceanos, algo bem maior que uma pequena onda no meio do mar, o temível e destruidor tsunami. Esta complexidade de limites e liberdade esbarra na questão de fundo das teses que analisam a clássica discussão entre os limites entre indivíduos e sociedade. Neste ponto, valendo-se da sociologia de Weber que centra a crítica ao processo de racionalização e suas conseqüências para os espaços de autonomia do indivíduo no mundo. Às vezes se percebe um grande embate visando à manutenção destes espaços de liberdade.
Este bom cão extravasou como um rio de balburdia, como um tsunami desvairado num belo dia de sol, antes calmo, que sibilava os vôos das maritacas. Agora louco bravo corria atrás de uma carroça, em que a mula era surrada pelo seu condutor que a xinga e solicita-lhe mais força e velocidade.
Disse o moço:
- Anda mula mole! Vai...
Chicoteia a mula, e o cão sai a ladrar para o carroceiro que dana a xingá-lo:
- Sai peste! Pulguento miserável, o que eu te fiz?
O cachorro mais irritado deu na mula uma dentada nas canelas em que esta iniciou uma sessão de pegar espírito, relinchando e dando coices, deixando o carroceiro em maus lençóis. Pois a carroça rebentava os arreios e saltava parecendo que corria sobre montes de quebra molas.
- Ai desgraça! Eu te mato!
- Ualá mula doida!
O moço não pediu socorro e também conseguiu não cair da carroça, porque era muito hábil. Nunca vi carroça sem freios e descendo a ladeira com a mula saltitando nervosa dando coices ao vento, foi a primeira vez. O cachorro, coitado ele vai ter que procurar outra casa o limite dele vazou todo o rio excedendo a liberdade que podia, pois os limites fazem os meios e os meios justificam os fins.