Tralhas
Temos que praticar mais o desapego. O ser humano é o único ser que se apega aos bens matérias. Você nunca viu, ou vai ver, dois cachorros discutindo por causa de uma televisão. Ou um gato brigando com o outro porque ele esta usando o seu tênis. Já o ser humano é muito apegado, mesmo sendo um bem de baixo valor, não consegue se desfazer.
Quanto mais pobre você é mais tralha tem em cima do guarda roupas, qualquer coisa que não está sendo usada, mas na sua cabeça, um dia você possa usar vai pra cima do guarda roupas. Compra um tênis e não joga a caixa fora porque vai se uma hora precisa de uma caixa. Ganha um presente, abre com cuidado para não estragar o papel, então guarda o papel, vai se um dia tem que dar um presente e não tem embrulho. Guarda o pote de sorvete, de requeijão, de conserva, de massa de tomate, alias não mais o de massa de tomate, porque agora a massa de tomate vem em lata, alguns guardam a lata, vai se um dia acaba quebram todos os copos de requeijão.
A maior prova do nosso amor pelas tralhas é que quando chega a época do ano de se desfazer das tralhas, fazer uma limpa em cima do guarda roupas, todo mundo passar por essa fase, geralmente é fim do ano, época que está fazendo mudanças pra entrar o ano leve. Então a família se organiza pra jogar as tralhas foras e doar as roupas que não usam mais. Esse é o momento em que provamos o quão apegado somos a essas coisas. Você vai separar as roupas que vai dar embora, então algo dentro de você começa a não querer doar mais, você pega uma blusa velha, que não usa a uns sete anos e não deu nos outros anos por causa do apego material, então pensa: “ei eu gosto dessa blusa, só não usei mais porque não vi mais ela, não posso dar embora!”. E isso segue com oitenta por cento das coisas que vê, sua idéia era doar tudo, mas seu eu amante da bagunça não deixa. Então elas voltam, quase todas, para o fundo, ou para cima, dos guarda roupas. Para saírem novamente só no próximo “dia de se desfazer das tralhas”.