Despedindo-se do nada

A vida é uma droga, um depósito de lixo em que se encontra todo tipo de resíduo: desde sentimentos jogados fora a uma demanda de pessoas hipócritas, falsas e mentirosas. Algumas pessoas tornaram-se tão ridículas, que aprenderam a mentir olhando em nossos olhos.

Ouço, diariamente, adultos que se acham espertos dizerem que, na vida, há inúmeros obstáculos e que você é responsável por derrubar cada um deles para poder seguir em frente. Mas são poucos os que sabem que o mundo é um obstáculo e que, para prosseguir, ele deve ser destruído. Assim como a humanidade deve ser dizimada e a vida, esquecida. É por isso que deixo esta carta, porque quem quer que a encontre gostará de saber as minhas razões, de saber os “porquês”. Na verdade, não deixo nada oficialmente declarado, algo que se compreenda. Ora, o mundo é incompreensível, por que eu seria diferente? Nunca fui do tipo que dá satisfações às pessoas, de explicar-me, não vai ser hoje que farei isto. –Mas é necessário deixar claro: Eu desisti! –Talvez esta seja uma ótima definição para o que está acontecendo aqui.

Decidi partir. Partir para outro mundo, um mundo desconhecido onde, talvez, eu possa ser mais feliz. Agradeço pela atenção que não me deram, pelo amor que me negaram, pela felicidade que me tiraram e pela vida a qual me usurparam.

Richard

Ao terminar de escrever a carta, Richard caminhou em direção à varanda. Olhou para o céu, para o chão, viu uma garota que estudava na mesma sala que ele, Juliana, ela gritou alguma coisa, mas ele ignorou-a totalmente. Após alguns minutos, retornou ao quarto. Não sabia o que fazer em seguida, ou melhor, como fazer. Será que iria doer? Será que seria rápido e fácil? Ele teria tempo para arrependimentos? Qual seria a melhor maneira? Richard não sabia.

Ele respirou fundo. Repetiu o processo algumas vezes. Tomou coragem. E falou para si mesmo: “Eu tenho que ir. É necessário.” Richard sabia que nenhuma dor se comparava ao que ele estava sentindo durante os últimos anos.

Vagou pela casa, sozinho. Dava passos lentos, mas não pensava em voltar atrás. Viu um retrato, pregado na parede, da família reunida e, aparentemente, feliz. Deixou uma lágrima molhar o seu rosto. Continuou andando. Propositalmente, ele havia chegado à cozinha. Direcionou-se ao armário. Ouviu um barulho. Foram os pais dele que haviam chegado do trabalho. Ele se apressou. Pegou uma faca enorme. Respirou fundo pela última vez e, num movimento brusco, a faca penetrou o seu coração. Lágrimas de sangue escorriam pela sua face. Ele caiu. E em meio à agonia, suspirou, faltando-lhe o ar:

-Acabou... Finalmente, acabou.

E os olhos se fecharam.

(Texto I -A Vida de Richard- Coletânea de textos)

Lianderson Ferreira
Enviado por Lianderson Ferreira em 15/05/2012
Reeditado em 08/01/2014
Código do texto: T3669291
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