CORAÇÃO DE MÃE

Coração de mãe, além de ‘sempre ter espaço pra mais um’, vive atribulado de preocupações.

No período da gravidez, a emoção de sentir os primeiros movimentos, a primeira imagem na ecografia e também a ansiedade de saber se o feto está crescendo saudável, perfeito. Nas vésperas do parto, as costelas espremidas pelo volume daquela vida prestes à luz. Sofre com a angústia da hora que está para chegar. Muita fé para que seja uma ‘boa hora’! Durante o nascimento então, nem se fala, o miserável rasga-se inteiro de felicidade. Ainda bem que as lágrimas colaboram para desafogá-lo do aperto. E o baile prossegue: amamentação, cólicas, vacinas, febre, banho... Até o primeiro sorriso! Nesse momento, desvanece, afinal o primeiro sorriso sempre é para a mãe, salvo raras exceções. A criaturinha prossegue até engatinhar e logo ensaia os primeiros passos. A mãe que pode acompanhar esta fase é abençoada e deve agradecer, porque passa muito rápido e quem viu, viu! O tempo decorre urgente, sem compaixão com os arrependidos. Aquela muito ocupada envolvida com trabalho, carreira, estudos, perde o melhor. E pode ter certeza, mais dia, menos dia, a culpa vem cutucar o peito atormentado.

A vida segue, e como num piscar de olhos, a figura esquisita da ecografia entra na puberdade e logo, adolescência. Com referência a este período, as mães são unânimes: é o mais complicado! Aquela coisinha fofucha, bochechuda, rosada e risonha, sempre distribuindo simpatia, com quem a mãe se exibia para as amigas, nas festas, passeios, almoços da família, se transformou em... Um ser metamórfico, esquisito, indefinido! Muda o corpo, os modos e comportamento. Surgem conflitos, birras, teimosias. Cai o rendimento escolar. A agenda fica repleta de recados: ‘Senhores Pais: o aluno Fulano não fez o tema’; ‘Senhores Pais: o aluno ficou abaixo da média em matemática’; ‘chegou atrasado’; ‘não está participando das aulas, comprometendo o rendimento’... E as mães têm que dar conta disso tudo! Elas ainda têm a casa, o trabalho, a vida social, espiritual, afetiva e mais, devem estar sempre bem cuidadas, de preferência magras e bonitas.

No meio disso tudo, a porta se abre e alguém grita: ‘mãe tô com fome’, joga a mochila no sofá, tênis e meia num canto da sala e nos envolve num abraço apertado e bronco, rebentando nossa face num beijo. Gente, não há coração de mãe que aguente!

Denair Inês Guzon

denairguzon@gmail.com