Supermercado

No mundo moderno, os supermercados estão se tornando cada vez mais o ponto de encontro onde vemos as pessoas fora do seu habitat costumeiro, uma espécie de Facebook do mundo real, com direito à degustação de cafezinho. É interessante ver aquele chefe bravo e duro, acompanhado da esposa, carregando a bolsa dela e empurrando submissamente o carrinho de compras. Ou um colega de trabalho, já metido em chinelos, bermuda e camiseta, e quando se faz as contas, vê-se que ele não teria tempo de ter chegado em casa e se trocado se tivesse saído no horário. Às vezes se encontra aquele possível cliente, que tem relutado em assinar o contrato...

- Olá fulano, quer um café?

- Bem... não sei se devo...

- Por que não? É uma degustação grátis do supermercado...

- Na empresa temos uma política quanto a receber presentes de fornecedores.

- Mas isso é, literalmente, um cafezinho. Não é que eu esteja te dando um “cafezinho”, certo? Você não deixaria se subornar por isso, ou deixaria? Por que eu tenho aqui uma garrafa térmica cheia...

O que me deixa bastante intrigado, é quando encontro pessoas no supermercado do bairro, e pergunto “onde você mora”. A pessoa responde “moro para aquele lado” e aponta para um ponto entre a geladeira de laticínios e uma pilha de mamões. Como ela sabe onde fica a casa dela, geograficamente falando? Será que todos que eu conheço andam com bússolas escondidas no bolso? Ou será que elas apontam para qualquer lado, aleatoriamente? Eu nunca sei onde fica o norte, ou para que lado é a minha casa. Aliás, normalmente eu não sei nem onde fica a saída.

Mas o momento mais perigoso dessa sociabilização em supermercados é quando encontramos velhos amigos, que não vemos há muito tempo.

- Olá, há quanto tempo!

- Pois é rapaz, tudo bem? E a família?

Qual o nome dele? Você não lembra, mas sabe que deveria lembrar, ele é o inesquecível alguém... Você começa a fazer um rápido Photoshop, fixando a fisionomia e mudando o cenário: no trabalho... não. Na faculdade... não. Na faculdade, de cabelo grande e mais magro... não. Na escola, com quinze anos e espinhas...

Daí voce se lembra, conversa, revê os velhos tempos, atualiza a quantidade e a idade dos filhos, tenta obter algumas informações para saber se ele está ganhando mais que você, promete se falar, marcar um churrasco, dá um abraço e se despede. E passa a próxima meia hora encontrando com ele de novo em cada corredor, sem saber se ignora ou dá um sorrisinho amarelo.

Alexandre H Torres
Enviado por Alexandre H Torres em 15/05/2012
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