HUMOR MADURO

Lembro-me, com riso nos lábios, do filme “Um convidado muito trapalhão”. Eu e alguns colegas pré-adolescentes assistimos diversas vezes. Da primeira vez assistimos a duas sessões seguidas, e a graça continuava viva nos absurdos cometidos pelo personagem interpretado por Peter Sellers.

Mais de vinte anos. Encontro o dvd da comédia numa prateleira afastada entre os filmes de catálogo. Dividida entre a nostalgia de rever o riso e a curiosidade do que perceberia hoje, convenço minha filha de nove anos, Barbarella, a levarmos o dvd para assistirmos juntas no sábado chuvoso.

Desde o início sou contagiada pelo humor, o figurante alvejado que insiste em continuar tocando corneta para aumentar sua participação na filmagem. O descuido e o cenário destruído. Não consigo conter o riso, antevejo as situações hilárias na festa, relembro alguns momentos. Não chego a ser surpreendida, mas entrego-me ao riso do humor inocente, meio pastelão, do filme.

Ao lado, Barbarella observa minhas gargalhadas com estranhamento. A história não tem tanta graça, é apenas um personagem atrapalhado em situações previsíveis.

O filme encerra com um toque romântico. A possibilidade de um encontro na próxima semana. Sem transas imediatas, piadas picantes ou efeitos superespeciais, mecanismos banalizados nas comédias atuais, o filme não conquista a nova geração acostumada com os temas eróticos imiscuídos na comicidade.

Um humor renovado que perdeu a virgindade de encontrar na casualidade os motivos de sustentação para o riso.

Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 22/07/2005
Reeditado em 22/07/2005
Código do texto: T36687