BEMBÉ DO MERCADO

No dia 13 de maio de 1888, a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, dando liberdade a todos os escravos no Brasil. Antes, no Ceará, os escravos já haviam sido emancipados há muito tempo.

O município de Redenção, na antiga província do Ceará tem esse nome por ser o primeiro a abolir a escravatura no nosso país. No ano de 1879 surgiu um movimento chamado “Perseverança e Porvir” que era um movimento pela emancipação dos escravos naquela província. O Ceará era a província que possuía menos escravos e esses eram traficados para as lavouras de café, cacau e açúcar. Isso despertava repulsa entre os cearenses.

Os jangadeiros cearenses liderados por Francisco José do Nascimento, que ficou conhecido como “O Dragão do Mar” aderiram à movimentações abolicionistas fechando o porto de Fortaleza ao embarque de escravos em janeiro de 1881.

Redenção, antiga Vila do Acarape, libertou os seus escravos em 1º de janeiro de 1883, antes mesmo que a província do Ceará e por esse feito ficou conhecida como “Rosal da Liberdade”.

No ano de 1880, os abolicionistas Antônio Soares Teixeira Junior, Joaquim José de Oliveira, José da Silva, José Teodorico da Costa, José Amaral, Alfredo Salgado, Antônio Cruz Saldanha, Manoel Albano Filho e Antônio Martins Francisco Araújo criaram a “Sociedade Libertadora Cearense” e fundaram o jornal “O Libertador” em 1881 para divulgar as suas idéias. Com todos esses feitos a escravidão foi abolida no dia 25 de março de 1884.

O 13 de maio é uma data para se comemorar, sim. Hoje existe outra data, 20 de novembro, quando se comemora o “Dia da Consciência Negra”, exatamente na data em que foi morto o herói negro “Zumbi dos Palmares” (1695). Mas longe de pensamentos politicamente corretos ou incorretos, o 13 de maio liberou aqueles homens e mulheres escravizados que sofriam violências e maus tratos. Esses homens e mulheres passaram a ser realmente cidadãos brasileiros com todos os direitos. Era tudo o que se podia fazer naquela época num Brasil ainda incipiente como nação e sempre truculento para com todos os seus cidadãos.

Hoje em dia se fala que a Abolição da Escravatura não trouxe empregos para os nossos novos cidadãos libertos, mas nada se podia fazer em nosso país onde a própria Abolição foi forçada por interesses estrangeiros. Não havia ainda uma noção de humanidades. Foi um dia de alegrias e pronto. Nunca mais haveria maus tratos pro parte de “feitores” e “senhores”. Cabia apenas a necessidade de crescimento, necessidade essa que foi se materializando ao longo dos anos e devido a muitas lutas. Em todas as cidades, só festas. Em Santo Amaro da Purificação, a 13 de maio, no ano de 1889, João de Oba, um pai de santo e ex-escravo saiu às ruas com todos do seu terreiro para comemorar num grande candomblé de rua, armando um grande terreiro perto da Ponte do Xaréu, com uma grande cerimônia que até hoje é conhecida como “Bembé do Mercado”. Nessa festa, todos os comemoram com emoção e orgulho a Abolição da Escravatura, data inicial para todas as lutas do povo negro. O ponto alto da cerimônia é a entrega do presente a Iemanjá seguida de um almoço festivo.