BOA- NOITE, CINDERELA

Sábado, o ônibus vindo de São Paulo estacionou no terminal rodoviário, exatamente às 06:30 horas. Os passageiros ainda sonolentos e cansados começaram a descer.

Clodoaldo que, ainda menino, há mais de 10 anos havia deixado a sua terra e mudado para São Paulo, agora, já rapaz, estava de novo no seu torrão natal.

O rapaz parou um pouco no degrau da porta do ônibus; fez pose, colocou os óculos escuros, olhou de um lado para o outro e desceu. Retirou à mala, moderna com rodinhas, do bagageiro, ajustou um táxi e foi para a casa do primo e amigo Brivaldo que, residia em distante bairro da cidade.

Clodoaldo foi recebido com festa pelo parente e sua família. Beberam várias cervejas para comemorar a sua chegada.

À noite Clodoaldo saiu. Queria conhecer a “noite” da cidade, as baladas, ver a mulherada, como ele mesmo dizia e para tanto se produziu todo. Indagou de um transeunte sobre o point das garotas e para lá se mandou. Era um bar com música ao vivo e muito alta; bastante movimentado.

O garçom lhe indicou uma mesa próxima à pista de dança; sentou-se e pediu uma cerveja. Fazia pose de galã e logo atraiu o interesse de duas garotas muito bonitas, ambas com roupas curtíssimas e coloridas, no maior estilo “periguete”. Fez sinal com a cabeça e as duas se aproximaram sorridentes. Começaram a conversar e logo Clodoaldo pediu mais uma cerveja e copos para as meninas.

O rapaz contou com orgulho que residia em São Paulo e estava de férias na cidade. Assim permaneceram por muito tempo, com muita conversa e cerveja.

Uma das moças, com voz melosa, convidou o rapaz para um local mais discreto e sossegado. Clodoaldo sorriu sarcasticamente, entendeu o convite, animou-se todo e topou a parada; com o braço levantado chamou o garçom, pediu e pagou a conta, deixando uma boa gorjeta.

Bastante “alto” e quase que amparado pelas duas meninas, o rapaz foi andando em direção a um motel nas proximidades onde praticamente caiu na cama sonolento. Uma das meninas cobriu o galã de beijos e carinhos, enquanto a outra rapidamente lhe tirava a roupa. Clodoaldo sentia-se um verdadeiro galã.

À medida que uma das moças lhe tirava a roupa, a outra vasculhava a sua pochete retirando todo o dinheiro que o rapaz possuía, resultado de meses de trabalho. O rapaz praticamente desmaiou.

Clodoaldo acordou horas depois com uma tremenda dor de cabeça. Olhou em volta e não encontrou as garotas. Correu a procura da pequena bolsa e a mesma estava jogada ao chão vazia. As “periguetes” rabiscaram as paredes com batom, beberam e comeram tudo que tinha no frigobar. Clodoaldo lembrou-se então do aviso do amigo Brivaldo, sobre “piranhas’ que aplicavam o conhecido golpe chamado "Boa noite, Cinderela", em homens incautos.

O conquistador teve que contar com a ajuda do amigo Brivaldo para pagar as despesas do motel, incluindo a pintura das paredes rabiscada. Bastante envergonhado e humilhado ele teve vontade de chorar.