Conversa no ponto de ônibus.

Conversa no ponto de ônibus.

Estava na fila do ponto inicial do ônibus Edu Chaves no terminal da Vila Madalena. E como sempre para iniciar uma conversa uma senhora que estava na minha frente falou: “a tarde hoje está com um clima muito bom, mas está previsto uma frente fria para amanhã”.

Eu disse: “é, o Dia das mães vai ser bem frio”.

Depois ela começou a falar sobre a falta de ônibus circulando à noite toda, sendo que muitas pessoas trabalham à noite e não tem condução para voltar para casa. Ela mesma trabalha na num barzinho da Vila Madalena e às duas horas da manhã, quando ela sai do trabalho, tem que ficar sentada na calçada até de manhã quando os ônibus começam circular. Então eu perguntei: “onde você mora”? “Moro em Guarulhos”disse-me ela. “Por que você mora em Guarulhos e vem trabalhar aqui na Vila Madalena?” “É que lá não tem uma dona Débora que me deixa ficar no barzinho dela vendendo minhas coisinhas”. “O que você vende?””Vendo chicletinhos, balinhas...””você não tem filhos que podem ajudar você, para você não levar uma vida tão sacrificada?” “Tenho, mas é que eles estão fazendo faculdade e se me ajudarem não terão dinheiro para estudar”. “È ele não devem mesmo deixar de estudar, mas trabalhar também é bom para não ficar com depressão”. Sabe, já tive depressão, ela me disse. “Eu as vezes estava sentada diante de uma garrafa de água e com sede mas não tinha coragem de me levantar para tomar um copo de água, tinha fome e não queria comer, pois só de pensar em ter de mastigar e engolir a comida já me deixava cansada; ficava com a bexiga cheia e não queria me levantar para ir ao banheiro”. “Que remédio você tomou para curar dessa doença?”

“Não tomei remédio nenhum, mas pensei preciso me curar, vou fazer tudo, mesmo sem vontade. A doença está na cabeça da gente. Se a gente se esforçar a gente fica curada. E hoje estou aqui, indo trabalhar onde tenho muitos amigos, converso com muita gente. Sou feliz.”

Conversamos até chegar ao ponto de ônibus que eu ia descer. Ela desceu dois pontos depois do meu. Achei muito interessante a forma que ela encontrou para curar sua depressão e achei que eu devia escrever uma crônica para alguém que sofra desse mal, tentar fazer o que ela fez.