CHECK-UP

Na semana que passou, eu fui chamado à Natal para me apresentar a uma Junta Médica para, depois de feitos os exames necessários, ingressar em um novo desafio: no programa chamado “Saberes da Terra”. Este, voltado para a Educação do Campo.

Pois bem. Aproveitei os dois dias úteis que tinha, antes da viagem, para fazer a bateria de exames exigidos para a admissão na função que eu havia pleiteado (através da seleção de currículos) e, disposto a encarar um dia em jejum, lá fui eu à luta.

Primeiro – e de praxe – os exames laboratoriais. Chatos, diga-se de passagem. Uma coisa é você fazer as suas “necessidades” espontaneamente. A outra é fazer um esforço danado (chega-se até a suar) para conseguir. E, para completar, o cara, logo cedo, ser “furado” não é nada bom.

Agora, o que impressiona é a criatividade das pessoas que chegam trazendo o material recolhido, em suas casas, para exame laboratorial. Elas inventam mil disfarces para levarem os dois frascos (ou mais), numa vã tentativa de impedir que os demais clientes e outros funcionários percebam a obviedade. Ora, se ali é o local de entrega de coletas (e só tem um), logicamente, os recipientes só podem conter fezes e urina.

Assim sendo, enquanto eu esperava para ser “furado”, abriu-se a porta da frente e, por ela, entrou uma mulher elegantemente vestida. Via-se, perfeitamente, que se tratava de uma senhora acostumada às benesses que a vida pode oferecer. No interior do laboratório, dispostas em filas, as cadeiras colocadas em blocos, para servirem de assentos para aqueles que, como eu, esperavam, também, a vez de irem levar a sua “furadinha”. E olha que devia ter, no mínimo, umas 50 pessoas ali dentro.

O cheiro de perfume francês, no exato momento em que a porta se abriu, impregnou o ambiente. Acredito que a fragrância legítima do país europeu deve ter dado um novo ânimo àquelas pessoas sentadas ali – em mim, deu – e renovado o ambiente, além de ter proporcionado um pequeno desfile de um andar requintado. Agora, o que me chamou a atenção e – claro – me impressionou foi a criatividade usada pela distinta senhora: de dentro de sua elegantíssima bolsa (pelo jeito era uma autêntica Louis Vuitton), ela retirou, quando chegou em frente à senhora que estava ao lado da placa – na parede – que dizia “entrega de material”, um estojo de veludo (tipo porta-joias) e, quando o abriu, tirou de dentro dele dois frasquinhos (iguais ao que eu tinha levado) envoltos, cada um, em uma espécie de lencinhos de seda e, delicadamente, entregou-os à funcionária, que olhava todo aquele cerimonial, com toda certeza, com uma certa ironia e um sorriso contido, apesar da postura profissional que adotou (fiquei imaginando, depois, elas comentando sobre o ocorrido).

Da mesma forma que entrou, a aristocrática senhora fez o caminho de volta, sendo acompanhada – em seu trajeto, tanto na ida, quanto na volta – pelos plebeus sentados ali naquela sala. Ah! – tanto homens quanto mulheres.

Bem, voltando ao comum, na hora de coletar o meu sangue para o hemograma, que incluía glicemia e PSA, a enfermeira, delicadamente, no item Dosagem do Antígeno Prostático Específico - PSA, foi me fazendo algumas perguntas, tipo: o senhor pegou em peso hoje pela manhã? O senhor bebeu ontem? O senhor teve relações sexuais ontem? A todas essas perguntas eu disse um não atrás do outro. Confesso que, no último item perguntado, o não saiu tão tímido...

Assim, de olho na seringa – que se aproximava da saliência acima da pele, causada pelo garrote colocado no antebraço e pela mão fortemente fechada, eu ainda tive coragem para perguntar se, por acaso, eu tivesse dito um sim, em pelo menos uma das três perguntas feitas, se seria possível ainda retirar uma amostra de sangue, especificamente, para o exame da próstata.

A moça me olhou com aquele olhar de quem, de fato, entende do assunto, e me disse que, no item três das perguntas, o aconselhado é não manter relação, pelo menos, dois dias antes do exame, para que haja uma comprovação maior no resultado.

- “Mas, emendou ela, o exame mais eficiente, aquele que melhor detecta ou não um possível aumento da próstata ainda é o toque retal – feito por um urologista”, disse ela no justo momento em que a agulha penetrava o meu vaso sanguíneo, fazendo-me dar um “ai” como se o que ela acabara de dizer tivesse uma relação direta com o “ai” que eu acabara de soltar em forma de um gemido.

- “Senhorita, eu estou careca de saber disso, mas convenhamos: se uma agulhazinha dessas já me faz dar um gemido desses, imagine o lamento quando estiver fazendo esse tipo de exame!” – disse, apesar de ter ouvido dizer que já houve casos em que o cidadão tomou um novo rumo na vida, justamente numa hora dessas. Vote!

A jovem enfermeira esqueceu-se um pouco da dura rotina de coletar sangue de inúmeras pessoas – diariamente – e deu uma sonora gargalhada, alta mesmo, associando, com toda certeza, o “ai” com o dedo e a introdução do mesmo com o “soltar a franga” em alguns casos.

Brincadeiras à parte, na verdade se faz necessário o toque retal nos homens acima dos cinquenta anos e é, sem sombra de dúvidas, o exame mais eficiente para diagnosticar se há algum aumento dessa glândula. Então, deixemos o preconceito (e as fantasias de lado) e vamos evitar um problema maior. Eu já estou me preparando para, o ano que vem, passar – espero que sem “ai” – pelo dedo do urologista.

Depois, os exames de eletrocardiograma, raio x, sanidade mental (todos com pareceres médicos), que eu fui fazer em uma clínica da cidade. Detalhe: se feitos através de convênio, a data mais próxima para se marcar a consulta com o cardiologista – para dar o parecer do eletrocardiograma, era para o mês de julho e, o eletro, claro e evidente, não poderia ser para o mesmo dia. Então, a saída qual foi? Particular.

Feitos todos eles (eletro e raio x), a vez dos pareceres. O raio x, por exemplo, não seria necessário apresentá-lo. Na entrega, ele já veio com o parecer médico. O eletro, tive que esperar bastante. Esperei tanto que me dei ao luxo de ir ao centro da cidade, almoçar, passar numa agência bancária, voltar e ainda esperar quase uma hora. Enfim, a minha vez! Fui atendido por uma médica educadíssima, simpática e humilde. Valeu a pena ter esperado. Acredito que, para os outros pacientes – alguns já de certa idade –, o contato com aquela profissional, mesmo não tendo comprovação científica, deve ajudar na recuperação.

Por último, o Atestado de Sanidade Mental. Mas, esse assunto fica para a próxima semana, pois requer uma reflexão bem mais apurada.


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Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 13/05/2012
Reeditado em 19/04/2019
Código do texto: T3665159
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