Política, crise e luta.

Política, crise e luta.

Planeta Terra, Brasil, 2007. O PT ganha o segundo mandato em reeleição com expressiva votação. Faz um mês que Luis Inácio Lula da Silva tomou o poder reeleito. Entre acusações, cpmis da vida, está lá nosso petista no poder.

Digo nosso, pois de uma forma ou de outra ele governa o país e querendo ou não todos estamos sobre seu governo. Muitos a minha volta não gostam dele, não votaram nele e nunca votarão. Ainda bem, isso que diz o que é uma democracia ou não.

O que mais me impressiona é o modo como as pessoas vêem isso. Como que a política é encarada de forma distorcida e pragmática por muitos. Concordo que a maioria das pessoas que votou em Lula não têm muita capacidade de discernimento, povão como dizem, e isso diz muito.

Que ele já foi analfabeto? Que ele fala o português popular? Que ele é um metalúrgico aposentado por acidente de trabalho? Que isso diz dele?

Diz muito como pessoa, como indivíduo, mas muito como cidadão. Muito pouco como político. Muito pouco mesmo. E assim é e sempre será. As virtudes pessoais não dizem muito em relação a política, a não ser aquelas que são pertinentes à pratica política. E com certeza estão longe de ser as que apontam os mais afoitos em ataque a sua pessoa.

Político é aquele que defende interesses. Um grupo de pessoas vota em alguém para defender seus interesses, assim é o processo democrático. Devemos votar em alguém bom? Em alguém culto? Em alguém técnico? Não acredito que respectivamente um Betinho, um Arnaldo Jabor ou uma Miriam Leitão receberiam votos para a presidência.

Alguém discorda que em matéria de política, mentir (quando necessário), fazer coalisões, medir esforços de interesses é o principal? Nunca vi ninguém sincero e falando somente a verdade chegar ao poder, seja lá de que tempo ou local da face do planeta. Nunca conheci ninguém altruísta como presidente nem que seja da comissão de formatura do filho.

Com certeza passamos por uma crise grave em nossa política. Mas uma crise muito mais de descrença que de prática. Antigamente a esquerda era revolucionária, a direita conservadora, existiam (poucos) centristas. Que esquerda hoje é revolucionária? Que direita extremamente conservadora?

Infelizmente qualquer política hoje em dia é econômica. Como dizer moralmente aos patrões das empresas que sejam bons e contratem pessoas? Se nenhuma política em prol disso for feita, esqueçam os empregos. Quem acredita que direita ou esquerda ou centro ou cima ou baixo hoje em dia se dá bem no poder? Estamos com taxas de desempregos altíssimas e de muito tempo. Oito anos de Fernando Henrique, vamos para cinco de Lula, não vejo tanta diferença assim.

Em nossa ultima eleição vimos a Heloísa Helena. Que se proclama mais radical. Mas como? Ela se rebaixaria as mesmas armas que os outros tem para governar. Taxas de juros, impostos, empresas... Ser bom nesse momento conta? Só se for para ganhar simpatia ao sair desastrosamente do governo escorraçada.

Estamos no momento político que diz que tanto direita quanto esquerda devem governar mais ou menos igual. Mas se fosse assim daria no mesmo votar em uma ou outra. Votar em Alckmin ou Lula daria no mesmo. Dá? Não, pois temos interesses diferentes e assim que a coisa tem graça.

Lula é político, sabe politicar, mesmo que seja dizendo que não sabe de nada, que os culpados serão punidos (alguns foram mesmo), como falar mal dele se ele conseguiu segurar seu barquinho no meio da tempestade? Isso que é um político. Basta saber se ele está do lado do seu interesse ou não.

Alguns acusam-no de seguir a política econômica de FHC. Seria muito rir desses? Em uma conjuntura em que esquerda e direita ditam tudo menos a economia não era de se espantar. Esquerdistas e direitistas que se vangloriam de querer reformular a economia, de alterar o estado em que está, drasticamente, só podem ser motivo de desconfiança.

É realmente difícil dirigir um país que, além de tudo, não pode primariamente defender seus interesses. Os interesses do Brasil, mal ou bem, tem que ser atrelados aos interesses do mundo inteiro. Principalmente de órgãos reguladores e dominadores como FMI.

Governar politicamente é conseguir os espaços de manobras para realizar tudo que não for primariamente econômico. Daí vejo a diferença entre esquerda e direita. Hoje em dia para a direita, saúde, educação, saneamento e todo o resto da infra-estrutura é algo a ser dado às empresas privadas. Enquanto que a esquerda não compartilha desses ideais. Votei na esquerda, principalmente por isso.

Confundir as ordens é confundir tudo. Que a economia de mercado é boa, me parece muito difícil de discordar. A competição leva melhores preços, melhores vantagens, etc. Mas como acreditar em uma educação de mercado? Uma saúde monetária?

Indiscutivelmente também o mercado não é um meio a nada, é um fim em si mesmo. A educação é sim um meio, a saúde é básico (um meio), o saneamento básico é sim o meio. Quanto eles estão presentes são o básico para se estruturar uma vida, nunca ninguém se contentará com um encanamento decente, uma escola publica de qualidade e hospitais funcionando dignamente.

Há mais, e hoje é a noção de cidadania. É cidadão quem consome. Daí a política econômica de geração de empregos, inserção social. Só participa da vida publica quem consome e quem tem dinheiro para tal.

O sistema capitalista, o que não temos como fugir, é para pegar. Mas nem por isso é para aplicá-lo a mais ordens distintas. Entre um sujeito de bom coração e um empresário frio, para gerir uma empresa, fico com o empresário. Melhor ter boas empresas gerando trabalho para todos que um bando de gente boa esfomeada.

Mas uma coisa não impede a outra, só não são totalmente compatíveis. Ninguém duvida que um bom empresário possa ter um bom coração. Mas, infelizmente, a empresa não tem sentimentos. Se para ela sobreviver precisar-se demitir tantos funcionários... paciência.

É exatamente nesse ponto que a economia acaba e a política entra. A política está aí para balisar o mercado, para não deixar a vida a mercê da economia, pois não somos seres econômicos, somos seres sociais. A política luta por interesses. Os interesses da direita não estão mais certos que os da esquerda. Mas existe muito mais gente passando fome que milionária.

Colocando tudo em pratos limpos o PT subiu ao poder porque a direita não criou empregos, não administrou bem a saúde publica, privatizou demais, lógico por interesses próprios. Mas estamos aí para lutar pelos nossos. Eu estou muito mais perto da pobreza que da riqueza.

É uma conta simples. O dinheiro é um só, para poucos terem muito muitos têm que ter pouco. A direita não se contenta com isso e quer tirar o pouco dos que só tem aquilo e dar mais a quem já não sabe o que fazer com o dinheiro que tem.

Em termos de política nunca é o mais certo e o mais errado, nunca é o bad guy contra o herói. Se alguns querem enriquecer outros querem sobreviver e aí que está a força da esquerda hoje. O povo, por falta de opção (que seja), votou na esquerda. Lula está aí, íntegro em seu segundo mandato porque por mais escândalos que existirem sua figura é política. Vai mentir? Qual político não mente? Vai passar maus bocados? Toda política passa. Mas se mantém forte por mais quatro anos.

Nesse ponto não temos o culto que sabe o que é o melhor para o país, isso seria uma ditadura erudita. Nesse ponto não há benfeitor que seja o caminho, Deus não é político. Nesse ponto não há especialista que possa fazer as vezes de político, um economista entende bem de economia, mas que de política?

Admiro Lula por ser o político que é, pode ser diferente? Que lutem com as armas que tem os que não concordam com tudo isso. Perderam nas duas ultimas eleições. Em tempos em que a política é massacrada e desacreditada pelos meios de comunicação com estatísticas, comparações esdrúxulas, estimativas furadas, com a palhaçada que fazem parecer a ordem política, nesses tempos como incentivar a juventude a votar? A se interessar?

Felizmente esse é o único meio de mudar alguma coisa, ainda sim o voto.

Ainda sim cidadãos políticos que lutem por seus direitos. Que hão de conferir as contas publicas, lutar pela clareza da demonstração das contas públicas. Exigir punição dos culpados se houverem tais. Enfim lutar pelo que acreditam.

A crise política de hoje está aí. Não há um fim visível, que faça o povo acreditar que a política é um meio. Esses terminaram. Dominar o planeta? Dar supremacia a uma raça? Converter fiéis? A política não tem mais essas ilusões de antigamente, mas passou a ser política humana, pura. Aquela que precisa ser praticada a cada dia por nós para que possamos viver melhor. Eu acho pelo menos que o fim da vida é viver e como viver sem política? Lutemos por nossos interesses, se não forem mesquinhos vale o esforço.

leandroDiniz
Enviado por leandroDiniz em 01/02/2007
Reeditado em 02/02/2007
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