E O NOME DO ANJO É: MAMÃE

Era um início de tarde. No céu o sol iniciava sua descida rumo ao poente. Sentada no parapeito da janela, de frente para o interior da casa, olhava meu pai, através do pequeno corredor, sentado no batente da porta que dava para o quintal. Ele tinha os olhos castanhos e profundos, fixos, nos horizontes cinza e vazios daquele tempo. A estiagem já assolava a muito nossa terra. Não havia um vestígio de ramo verde em qualquer lugar que se lançasse o olhar. Por isso mesmo, em dado momento percebi que o olhar de meu pai perdia-se sem encontrar esperança alguma. Abaixou a cabeça, apoiou-a com as mãos, depois passou-as pelos cabelos como se buscasse no pensamento uma solução. Ergueu novamente os olhos como se procurasse uma luz por entre a poeira fina que o vento erguia com facilidade da terra seca e esfarelada. Meu pai estava sem trabalho e sem oportunidade. Todas as famílias mais abastadas haviam partido para outras terras. Eu, ali, numa certa distancia, tinha o coração junto ao do meu pai. Podia sentir-lhe a dor, a angústia e a desesperança. Pensava: Por que não nascera menino? Naquele momento seria mais útil para meu pai, em vez de me sentir uma preocupação a mais. Eu a primogênita de uma família de sete irmãos, naquele momento, também sofria, me sentindo inútil e impotente. De repente, o ar se encheu de uma voz forte e ao mesmo tempo dócil e luminosa:
-“Olhai as aves do céu... Elas não semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?(...) Olhai para os lírios do campo... Eles não trabalham nem fiam; E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles.Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé?”
Era a voz de minha mãe que, vendo meu pai esmorecer, o erguia e o culminava de força, esperança e fé. Ela não sabia, mas estava fazendo o mesmo comigo. Erguia-me e me ensinava a acreditar incondicionalmente em Deus e em sua providência. Em meio aquela tristeza, ela sorria o sorriso da alegria dos que tem a certeza do amor de Deus. Sim, Ele cuidaria de nós e jamais nos esqueceria.
E assim, por todos os momentos difíceis que passamos, fosse de doença, fosse de agruras, fosse de tristeza... Sempre minha mãe citava as palavras do Cristo Jesus, ou, com suas atitudes, espelhada na palavra de Deus, dissipava as trevas da desesperança com a luz da fé; coloria, com a tinta da esperança, as pedras cinza da estrada; e perfumava, com o suave perfume da sabedoria, os pântanos fétidos da revolta. Nunca vi minha mãe, em nenhum momento, sem fé ou desesperada. Sempre a vi conversando com Deus, com seus joelhos no chão, seu terço nas mãos e a palavra de Deus no coração.
Anjos celestes creio que existem. Eles estão invisíveis e imponderáveis ao nosso redor, nos guiando e cuidando. Mas anjos terrenos são raros, não estão em todos os lares, nem vivem em bares tomando champanhe. No entanto, um deles, tenho a sorte, a graça, e a benção que seja a minha mãe.




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