Quem ama alguém, não ama só alguém.

Quando ama-se alguém, ama-se também tudo que envolve esse alguém amado. Ama-se seus cheiros, bons ou nem tanto. Ama-se seus passos, sejam eles certos, trêmulos ou tortos. Ama-se seus sonhos, sejam eles quais forem. Ama-se suas certezas, mesmo que para nós pareçam íngremes, salgadas ou desafinadas. Ama-se suas crenças, mesmo que para nós não representem muito. Ama-se suas agonias, suas folias, suas alegorias. Ama-se seus remendos, seus erros e acertos. Ama-se seus gestos, mesmo que sejam para nós tresloucados e adversos. Ama-se seus frutos, tendo parte na essência deles, ou não. Ama-se sua raiz, suas melodias, seus arredores. Ama-se suas falas, mesmo que não sejam exatamente aquilo que gostaríamos de ouvir naquela hora. Ama-se seus encardidos, os pequenos, os imensos. Ama-se suas armas, mesmo que possam nos machucar, quando preciso for. Ama-se seus males, suas dores, seus remédios. Ama-se seu acordar e seu repousar. Ama-se seu jeito de ver o mundo, as coisas, tudo. Ama-se seu tempo, mesmo que muitas vezes corra atrás ou na frente do nosso. Ama-se até o hora em que quiserem nos deixar, mesmo que isso nos inunde de tristeza e dor. Ama-se, sobretudo, sua alma, com todos seus encantos, tropeços e mistérios que puder carregar.

Dedicada à minha mulher amada.

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