Poligamia: heresia ou hipocrisia?
Poligamia: heresia ou hipocrisia?
Jorge Linhaça
Poligamia, um assunto sempre controverso em nossa sociedade graças á hipocrisia que permeia a mentalidade do povo.
Poligamia, para muitos uma heresia, um desrespeito aos mandamentos de Deus.
Poligamia, sistema familiar utilizado em várias partes do mundo por diversas sociedades das mais primitivas às mais cultas.
Afinal, o que é essa tal poligamia? Por que causa tanta repulsa a alguns? Como funcionam as sociedades polígamas?
Para grande parte das pessoas a poligamia é uma aberração, um desrespeito ao sexo feminino, uma forma de domínio machista ou uma desculpa para a safadeza generalizada.
Numa sociedade como a brasileira, onde a maioria dos homens pratica a poligamia por anos, às escondidas, e muitas vezes com a conivência das companheiras, sejam estas as esposas ou as “filiais”, criticar a poligamia é profundamente hipócrita.
Aliás, hipócrita e, ao mesmo tempo, bastante cômodo.
A poligamia praticada em outras sociedades, implica em que o polígamo, tenha condições de dar exatamente tudo igual ou equivalente, a cada esposa. Significa que o mesmo é responsável pelo amparo não só das mulheres mas também dos filhos.
Na poligamia brasileira ( bem como em outros países “cristãos”), a poligamia está ligada diretamente à traição dos valores morais , afinal não existe a figura do casamento com a segunda, terceira, quarta ou enésima companheira, não existe, na maioria das vezes um vínculo familiar e tudo é feito às escondidas.
Nas sociedades polígamas, há de haver o consentimento da primeira esposa para que o marido possa desposar a segunda, no caso de uma terceira, é necessário o consentimento das primeiras e por aí afora.
Famílias polígamas vivem juntas e dividem as tarefas de criação dos filhos e da administração do lar. Não se trata de um harém de concubinas, mas de um núcleo familiar onde não existe a farsa do “trabalho até mais tarde”, da reunião de última hora, da “viagem de negócios”.
Não existem filhos bastardos espalhados ao vento como em nosso modelo de sociedade.
A hipocrisia nesse aspecto vai mais longe e ganha aspectos enojantes, quando, justamente os líderes religiosos que pregam a monogamia, mantém relações amorosas ou sexuais com várias de suas ovelhas.
Algumas mulheres podem condenar a poligamia alegando que os direitos são iguais, se um homem pode ter três esposas elas também poderiam ter três maridos.
Por incrível que pareça, existem sociedades matriarcais onde isso acontece, a poliandria é uma prática normal.
A questão real, no entanto, é se podemos realmente considerar a nossa sociedade como monogâmica, se é mais interessante que os homens tenham várias companheiras espalhadas por aí, sem, no entanto, terem responsabilidade legal sobre elas ou seus filhos.
Muitas mulheres se prestam ao papel de amantes ou filiais, sabendo da condição de casado do seu parceiro, mas se lhes for perguntado se apoiariam a poligamia a sua resposta será, via de regra, um redondo não. Isso porque, boa parte das amantes, por mais que negue a si mesma, tem a esperança de que um dia o seu companheiro deixe a matriz e vá viver com a filial.
A família brasileira, hoje é tão confusa que acaba por ser polígama e poliandrica sem que se de conta disso.
O divórcio e uniões subsequentes criaram modelos familiares onde se misturam os filhos entre os meus, os seus e os nossos. Quando ambos os ex-cônjuges entram em novos casamentos e mantém boas relações com seus antigos companheiros, a família ganha características de uma família polígama, queiram ou não, a diferença é que nem todos habitam sob o mesmo teto.
Não vou dizer que a monogamia é um mal, longe de mim, mas diante da realidade atual, permito-me indagar se vários casamentos não haveriam se mantido se fossem polígamos. Afinal, boa parte dos divórcios ocorre por conta de traição de um dos indivíduos.
Enfim, a mesma bíblia usada para justificar o asco pela poligamia, é aquela que relata sobre vários reis e profetas do povo de Deus que tiveram várias esposas.
Afinal, se Deus é imutável, onde está então a verdade?
Se a poligamia é condenada por Deus, podemos então considerar que Abraão, Isaque, Jacó, Davi, Salomão e vários outros, estão condenados ao fogo eterno do inferno?
O que é melhor, uma família com várias esposas reunidas sob o mesmo teto, numa relação de cordialidade, ou a devassidão das amantes ocultas?
A resposta cabe a cada um, meu texto é apenas uma divagação sobre um tema que sei ser bastante polêmico.
Salvador, 11 de maio de 2012.