CRÔNICA – O revide vem a caminho...
 

CRÔNICA – O revide vem a caminho... – 11.05.2012
 
           
           Havia eu feito uma promessa no sentido de que jamais voltaria a escrever sobre assuntos de natureza política, econômico-financeira e também a respeito de escândalos que já se enraizaram de há muito neste país.

           Minha jura, digamos assim, vinha sendo bem sucedida, entretanto a pedido de um amigo de fé não poderia jamais ficar calado ante esses absurdos que continuam sendo praticados na terra do jogo, da corrupção e do carnaval.

            É que alguém dera um grito não se sabe de onde, geralmente é de gente de dentro do governo, lançando a história de que as autoridades financeiras iriam baixar os juros e também mexer na secular caderneta de poupança, esta que fora criada para captar recursos de gente pobre, no máximo da classe média, tanto que somente garante aplicações de até R$ 50 mil. Isso serve para fazer o caminho do governo, que vem logo depois e nega tudo, passando a ser o bonzinho. Todavia, com a renda proporcionada, que ainda era menor do que a inflação vigente, os milionários passaram a optar por fazer depósitos nessa conta, incentivados até pelo poder público (A Caixa Econômica é do governo e também é mantenedora de todos os jogos de sorte/azar do país), haja vista que vários prêmios de altíssimo valor na mega-sena são depositados, isso pelo que se tem notícia.

            Outros preferiam aplicar em títulos do governo federal, que proporcionavam rendimentos paralelos à taxa básica de juros praticada pelo Banco Central do Brasil, apesar de existir aplicações com rendimentos superiores, todavia com riscos que o mercado oferece. A compra de ações de empresas é um investimento assaz perigoso e ainda de longo prazo, porém o pobre não teria condições de dirigir seus parcos recursos para essa faixa de aplicação. Como se sabe, o Brasil sempre vem oscilando em matéria de crescimento, e quando esse não ocorre o que se vê é o valor das ações despencar na Bolsa de Valores. O resultado, quando optava por esse investimento, era ver seus reursos se esvaírem, pois compraram na alta e com medo venderam na baixa.

            Muita gente, entretanto, sempre preferiu aplicar seus recursos em moedas estrangeiras, notadamente o dólar, que dificilmente oferece prejuízo ao investidor mesmo na hipótese de crise como a que recentemente abalou e ainda tumultua o mundo, especialmente na zona do Euro, na Europa. Há quatro meses o valor do dólar rodeava a cifra de R$ 1,50, mas hoje ele está beirando os R$ 2,00, num aumento, ou seja, numa valorização de mais de 30%. Pergunta-se: Qual o investimento que em tão curto prazo oferece renda igual ou parecida com essa? E ainda tem aquele negócio de neste país a moeda ser administrada por meio de decreto do presidente da república, aconselhado pelos grandes economistas governamentais.

            Claro que isso é somente um preâmbulo, porquanto o cerne do assunto que quero tratar é a mudança repentina de atuação do governo, desfocalizando as apurações de verdadeiros desvios de recursos de propriedade do povo, num emaranhado de pessoas, de quase todos os escalões da república, corrupção ativa e passiva, passando por Câmara de Vereadores, Assembleias Legislativas, Câmara e Senado Federais, sem perder de vista empresas particulares e de propriedade estatal, quer municipal, estadual ou federal. Há quem fale até mesmo que esse verdadeiro descalabro também teria passado pelo centro do poder, mas será Deus possível?!

           Como assim, poderia alguém perguntar? O julgamento daquele rumoroso caso do “mensalão” está à beira de prescrever, e nele foram denunciados pelo relator do processo no Supremo Tribunal Federal, no caso o meritíssimo doutor Joaquim Barbosa, cujos nomes dos responsáveis foram aceitos pela nossa Corte Máxima. Por outro lado, o ruidoso caso envolvendo o bicheiro Carlinhos Cachoeira (que está preso numa penitenciária de segurança máxima), cuja apuração foi delegada a uma Comissão Parlamentar de Inquérito, que vai engatinhando, não progride, ao passo que as eleições estão chegando e talvez não haja tempo suficiente para que seja concluída. Nela o nome mais em evidência é o do Senador Demóstenes Torres (para mim uma grata surpresa, pois eu o tinha como o mais sério político desta nação). O STF quer julgar sobre o “mensalão”, palavra tão nociva que nem consta do nosso dicionário Aurélio, mas vão aparecendo casos de maior urgência (?) e o foco termina sendo mudado.

            Claro que existem muitos outros nomes, inclusive de políticos e pessoas ligadas à base de apoio do governo, mas aí é que entra a grande festança que os palacianos proporcionaram com a propagação das novas normas das taxas de juros de empréstimos e da caderneta de poupança. Realmente, os juros baixaram e até muito bem, de sorte que eu próprio tive uma economia de quase R$ 3 mil reais no pagamento de empréstimos que tomei no BB para compra de automóveis para meus filhos. Essa redução será coberta facilmente pela dedução das receitas oriundas das aplicações em títulos do governo, que é gerida pela vontade da presidente da república. Agora, dizer que não mexeram na poupança é uma inverdade deslavada, pois de 67% que gerava para o investidor, tendo-se como base a taxa SELIC, fora reduzida para 60%, a partir dos novos depósitos, mesmo que o cliente já possua sua cadernetinha guardada. Essa continuará a render o mesmo, mas os novos depósitos foram reduzidos, e isso está na cara, só não enxerga quem não o quer.

            Para que todos saibam, torna-se necessário dizer que a cada amputação de 0,5% na taxa básica de juros (SELIC) o governo economiza cerca de R$ 8 bilhões da dívida pública federal (quase 1,9 trilhões de reais) e assim, de decreto em decreto vai-se sequestrando os recursos da população que aplica numa regra e sempre é surpreendido com essa manobra de má índole, pois as recentes normas somente deveriam valer para aplicações novas, como ocorrera com a poupança. Aonde andam os advogados deste país?

            Essas duas mexidas foram quase suficientes para alterar o foco dos rumorosos casos de corrupção, e quase não mais se ouve falar neles. Porém, para ter ainda mais certeza de que tudo irá pra baixo dos riquíssimos tapetes, eis que novas medidas foram imediatamente tomadas pelo poder central, qual seja reativar a tal “Comissão da Verdade” em todos os Estados da Federação e também na capital federal. Os governadores nomearão os componentes a nível estadual, e o presidente da república na esfera federal. Só podem participar dessas trupes pessoas de moral altamente ilibada, sem qualquer arranhão na sua vida moral e civil. Ilibado neste país somente podem ser os nascituros. Agora, uma coisa é certíssima: O que vão dar de despesas aos cofres públicos nem queiram imaginar.

            Não resta dúvida que em tendo governantes envolvidos no caso do Carlinhos Cachoeira, que de repente tomou vulto de uma grande catarata, quem sabe até maior do que a de Iguaçu, amigos dessas autoridades (?) não sofrerão qualquer punição, nem mesmo serão chamados a depor nessa CPI praticamente inexistente, eis que as reuniões são feitas no maior sigilo possível. O povo não merece saber o que lá acontece, vai ficar em surdina, na propriedade exclusiva dos envolvidos. Ao que parece, se o bicheiro abrir mesmo a boca não sobrará praticamente nada de positivo para herança dos brasileiros.

            Mas no caso das “Comissões da Verdade”, com toda a certeza, vamos ter revanche contra militares, em face de desaparecimento de pessoas civis durante o período revolucionário, que foi de 1946 a 1988. Pressinto que vai haver muitos militares punidos, engaiolados (se ainda vivos), mas a recíproca não será verdadeira, ou seja, os que deram fim aos soldados nada sofrerão, ficará tudo como antes. Soube que até a advogada da doutora Dilma, dos tempos da revolução, estaria incluída entre as convocadas para a tal comissão.

            Por vezes me pergunto por que nem eu e nem minha família fomos perseguidos ou mesmo punidos/torturados pelas forças armadas? Claro que por falta de “rabo de palha”. Mas é bom lembrar que pessoas que participaram de assaltos a bancos, sequestros e de organizações tidas como criminosas, salvo melhor juízo, continuam gozando de todos os seus direitos, inclusive na mais alta esfera do poder. Onde o Artigo 5º da Constituição da República?!

            Procuramos não utilizar linguagem técnica, eis que dificultaria o entendimento do povão. Mas me digam uma coisa pelo amor de Deus: Não será que esse supra inteligente Carlinhos poderia ser um grande ministro neste país, em face da facilidade que tem de influenciar e de manipular assuntos tão complicados!

            Para finalizar gostaria de dizer que a medida mais correta para que os juros baixem no mercado é o governo, no geral, fazer seus depósitos única e exclusivamente no Banco do Brasil, como era antigamente e que os doutores José Sarney e Maílson Nóbrega, imaginando fosse o melhor retiraram essa regalia do BB, que passou a concorrer com bancos particulares, cuja finalidade é apenas o lucro, nunca o crescimento do Brasil. Para um bom entendedor, nem seria preciso dizer que o funcionalismo do BB, preparadíssimo, admitido mediante concurso, muita vezes mais difíceis do que certos vestibulares, ganhando bons salários não haveria condições de concorrer de igual para igual com os bancos privados, que pagavam verdadeiras misérias aos seus empregados. O BB não faliu graças ao desempenho do grande presidente-funcionário Camilo Calazans de Magalhães, grande sergipano, que lamentavelmente fora chamado por Deus há quatro meses.

É por essa e outras que tenho vergonha de ser brasileiro.
 
Sem revisão
Ansilgus
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Enviado por ansilgus em 12/05/2012
Reeditado em 14/05/2012
Código do texto: T3663493
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