Martelando o jeans
Na loja da Restaura Jeans em Pirassununga, uma das melhores do interior do estado de São Paulo, vi uma costureira numa máquina-de-costura elétrica usando um martelo para facilitar a colocação da barra de uma calça na agulha de costura.
Ela martelava devagar a barra, dobrada em duas, e a deixava achatada suficiente para a agulha dar os pontos de costura na máquina – método que eu, filho de uma costureira que pedalava uma antiga máquina Singer – nunca tinha visto.
Lembro-me de uma sapataria, onde os martelos eram usados com força a todo o momento no preparo do couro para o solado ou a meia-sola, e aquilo me parecia muito rudimentar, porque o couro de boi usado pelos sapateiros artesanais já vem curtido e passa por um processo de amaciamento, que permite o seu manuseio e corte ,como se fosse pano, pelas afiadas facas-de-sapateiro. Em seguida ,os pregos e taxinhas eram martelados com precisão sobre o pé-de-ferro ou formas de madeira chapadas para fixação da sola.
Não estou aqui para fazer reflexão sobre a importância do martelo nas profissões artesanais. Esse instrumento existe nas metalúrgicas, nas fábricas de automóveis, nas oficinas mecânicas e na fabricação de facas e outros artigos de cutelaria. Mas, nunca tinha visto o emprego desse instrumento de maravilhosa e múltipla utilidade na costura de roupas.
O que seria do homem sem o martelo, esse desprezado pedaço de ferro com cabo de madeira, que só ganhou visibilidade quando foi associado à foice pelos comunistas: O martelo simbolizando a indústria, a cidade, e a foice simbolizando a agricultura, o campo. E os dois cruzados, como no emblema comunista, representam a junção do campo (a madeira) e da cidade (o ferro), sem a qual as revoluções socialistas (ou comunistas) seriam inviáveis,segundo o Marxismo-Leninismo.
Do artesanato às revoluções, o martelo, companheiro constante da bigorna, teve e ainda tem grande importância para o desenvolvimento dos povos, moldando ferraduras para cavalos que transportam riquezas e pessoas e aram os campos nos terrenos inóspitos, quando o trator não existia. E quantos quadros e adornos existem no mundo que dependeram do martelo para sua fixação nas paredes e tetos?
Abençoado seja o martelo, por tudo que faz e continua fazendo para o bem-estar dos homens: Casas,camas,mesas,assoalhos,armários,etc. Se houvesse a possibilidade de uma metempsicose em forma de objetos, eu elegeria o martelo como minha forma preferida: Sempre bate, e nunca apanha.