Meu primeiro trabalho

Assim como a maioria dos jovens de 17-18, cursava o finalzinho do segundo grau e não fazia a menor ideia do que seria da minha vida profissional dali pra frente.

Para quem não pretende ( ou não pode ) entrar em uma faculdade, essa fase é como uma espécie de "limbo das escolhas".

Como eu fazia parte daqueles que não podiam simplesmente se matricular em uma universidade pelo infeliz fato dos boletos chegarem no começo de todo mês, restaria apenas escolher um entre os anúncios de vagas de emprego no jornal ou bater na porta do Mc Donald's.

Felizmente ( ou não ) meu primeiro emprego veio por indicação de um amigo de infância (Sabia que aqueles piques-escondes serviriam para alguma coisa. Network!). E por me conhecer desde pequeno, obviamente conhecia todas as minhas qualidades e dentre tantos outros amigos, julgou ser eu, a pessoa mais indicada para o importante cargo.

O trabalho? Assistente de auxiliar de impressor de serigrafia. Não sabe o que é? Eu te explico... Já viu como os homens que trabalham no garimpo ficam todos da cor do barro lamacento? Então, é mais ou menos isso, só que multi-colorido. De segunda á segunda, sem carteira assinada, fritando a mente debaixo de telha de amianto, cinquenta reais por semana. Sem falar no visual, estilo "pintura corporal abstrata", e o novo aroma de solvente.

Foi tenso, acredite. Mas não importava. Depois de um tempo eu realmente passei a gostar de tudo aquilo, foi um dos melhores lugares que eu já trabalhei, e até hoje continua sendo. E além disso, agora estava encaminhado, havia um norte para seguir finalmente.

E havia também o maço de grana no final da semana. Cinquenta reais, tem noção? Era uma grana razoável para quem não tinha mesada. Na minha mão então... era uma fortuna.

Fiz questão de juntar uma mês inteiro só para ter duzentos reais na mão, tudo em notas de 20 e 10. Contar minhas notas era tipo Tio Patinhas nadando na piscina de moedas.

Entender que nessa situação você passa a ter poder de compra é uma sensação indescritível, e começar com essa "bolada" foi fundamental para que eu desse tanto valor á administrar meu santo dinheirinho para que ele durasse até o final do mês.

Escapei enfim, do limbo do começo da vida profissional e do triste estado de apreciador de vitrine, para um rapaz consumidor e profissionalmente encaminhado. Descalço, sujo de tinta e fedendo a solvente. Mas, encaminhado.

Eduardo Polarco
Enviado por Eduardo Polarco em 11/05/2012
Reeditado em 11/05/2012
Código do texto: T3662936