A garota de Diadema
Lá vem ela passando, se equilibrando nas perninhas tortas e finas de bambu.
Magrinha, branquela, cabelos pretos, surrados, cortados a navalha.
Ela chega toda tímida, encabulada, olhar cabisbaixo, olhinhos negros, fundos, opacos.
Seu rosto fino, maltratado parece querer esconder um segredo e suas mãozinhas finas, tremulas e chamuscadas se abrem para pedir uma moeda.
-Só uma moedinha! Por favor! Jesuisss te abençoe moço!
Quando sorri, mostra seus dentinhos ainda brancos e revela uma infância que embora surrada, violentada e maltratada, ainda reluta em partir.
Hoje ela ainda não comeu, mas já foi comida.
Ainda não tomou café, mas já apanhou no rosto.
Ela sai brincando com as moedinhas na mão e continua sua marcha de morta viva.
Enquanto se distancia, eu desmorono como ser humano.
Sinto uma mistura de revolta, desespero e impotência diante da tragédia.
Lá vai ela caminhando e se equilibrando nas suas varetinhas de bambu. Não a caminho do mar, mas a caminho do vicio e da perdição.
A garota de Diadema.(Walter Sasso)(Autor do livro "Dobra Púrpura" - Amazon)