A vida (ligeira meditação)



 
            A vida não é uma linha reta. Pelo contrário, possui muitas curvas, trechos inesperados em que a estrada termina numa selva. Há que procurar atalhos, subidas de montanhas, descidas de precipícios, travessias de rios caudalosos, oceanos de incertezas e dúvidas.
            Não há, portanto, uma progressão, um caminho reto a ser seguido. Quando jovens, imaginamos a vida assim. Tudo claro, normas a serem obedecidas. Uma moral única e exigente. Assim pensava eu quando tomei a decisão de sair do seminário dos padres Barnabitas, em Caxambu, Minas Gerais. Via a minha saída como uma traição, uma fuga aos meus compromissos. Logo eu que, segundo o Pe. Reitor, tinha a massa do sacerdócio, com apenas 11 anos de idade. Com certeza ele se enganou comigo, a religião formal não me atrai mais.
            Mas não é do seminário que quero falar. Quero falar de nossas vidas. Tudo que aprendemos é areia movediça.  Como seria fácil se a vida se constituísse em dizer sim ou não. A vida é um grande talvez! Tudo é incerto, nada é garantido. Jamais atingimos a verdade e o conhecimento das coisas. Tudo gira em torno de nós mesmos e agimos de acordo com os acontecimentos que ocorrem em nossa volta. Não estou no começo, no meio ou no fim do caminho. Estou no meio de um cipoal, fazendo força para me segurar, pra não cair de vez. No fundo, giramos em torno de nós mesmos, de nossos interesses imediatos, tentando solucionar nossos problemas, encobertos por uma nuvem de ignorância.
            Esta minha meditação quer apenas destacar a precariedade da vida, as nossas ilusões, a quase futilidade de tudo e a dúvida permanente em nossas existências. Não é usual falar disso, sei muito bem. Mas se prestarmos atenção, é sempre disso que falamos nos nossos poemas, nas crônicas da vida. Na música clássica também estão bem presentes essas inquietações, os dramas da vida,  cujos dados lanço agora no jogo do meu pensamento. 
            Quero dizer também que, ao mesmo tempo,  acho o ser humano fantástico, com todos os defeitos que pensamos que temos. Fantástico, sim, pois se vivemos no fio da navalha, numa corda bamba, e ainda temos alegria, sonhos e fantasias,  é porque há algo mais em nós a ser descoberto.
            E fazemos poemas, como o velho e sábio personagem de um romance de Hermann Hesse, que tocando uma música na sua flautinha de madeira,  escreveu: “Minha cabeça e meus membros/ Jaziam prostrados/ Mas agora estou de pé/ Alegre e bem disposto/ Contemplo o céu de frente”.
            Bem, eram essas as considerações que diria, bem preliminares, que meu espírito quis passar neste dia.  Porém, não quero ser tão melancólico, há que ter alguma alegria, alguma coragem, algum entusiasmo para prosseguir vivendo, dando um sentido nosso para o viver.
            Termino, meus queridos e amados amigos e amigas com mais poesia, que é o melhor que podemos fazer no estágio em que nos encontramos.
            Eu, pessoalmente, estou sempre começando alguma coisa,  e como gostaria de possuir uma potente vela para clarear um pouco que seja a escuridão em que estamos enredados.
            Deixo mais um pensamento do escritor alemão Hermann Hesse, que me inspirou a fazer este texto, bem meu, que saiu do meu coração, das minhas entranhas, como as poetisas gostam de dizer. Encerro com esses versos de alento:

            “Em todo começo reside um encanto
            Que nos protege e ajuda a viver”.